sábado, 6 de junho de 2020

Carta para Ieda Reis



Negra, a minha mãe de coração, tenho pensado tanto em ti nos últimos dias. Tenho pensado em tudo que me mostrou, falou, nestes anos. 

Minha musa maior: Ieda Reis

Nossas conversas na cozinha, eu sentada num banco, pedindo para que, me ensinasse a cozinhar, e tu rindo, perguntando o que eu queria comer. Não queria que eu fizesse sujeira, que eu mexesse nas tuas panelas. Sempre fui tua fã. Quantas conversas tivemos nós duas entre os intervalos da vida. Tão preciosas para mim.

Eu e Cintia (minha irmã) com Negra


Quantas despedidas e reencontros também. Quantas vezes peguei nas tuas mãos e te abracei perguntando, porque Deus me mandou como tua filha de coração, como tu sempre dizia para todos. Que orgulho meu ser tua filha de coração! Nestes dias de muita intolerância e desrespeito, pelas pessoas negras, fico me perguntando o motivo de pessoas quererem enxergar pela cor e não pelo amor. Durante a vida aprendemos algo, com cada pessoa que entra na nossa vida. Contigo aprendi que amor pode ligar as pessoas, independente de cor da pele.

Negra e a Tati


Contigo ganhei mais dois irmãos, o Xande e a Tati. Ganhei uma família toda: Angelika, Karine, Claudete, Claunira, Mila, Zoca, Francine, Gui, Karol, Lucas, Lu, Maia, Vivi, Val, Rodrigo e muitos, muitos outros que povoam meu coração!

Xande, Negra e Tati


Contigo descobri que sou filha de Iansã e Xangô, meus pais espirituais, que me dão força para viver nesta vida tão insana. Contigo vivenciei religião que cuida de gente. Aprendi que uma terreira é o melhor lugar para se estar, quando o coração é puro. Este aprendizado foi tão forte, que não consigo entender tanto ódio por aí. E por isto te escrevo. Te escrevo para agradecer a tua fortaleza, a tua justiça.

Escrevo para dizer ao mundo que existem pessoas que sofrem uma vida toda, mas que mesmo assim não se rendem à amargura.  Esta pessoa é tu. Hoje, com tanta coisa triste, eu gostaria de te abraçar muito forte e chorar no teu ombro, mas o Covid ainda não deixa. Sei que primeiro me daria uma bronca: “Pati, filha minha não se acovarda! Respira e enfrenta! Xangô e Iansã estão contigo!” Depois me abraçaria e com a voz mais meiga deste universo me faria carinho com poucas palavras e muita presença. Porque contigo aprendi que o amor vence todos os pesadelos do passado, que a paciência rende frutos doces e que cantamos para nos libertar. Que a força dos orixás estejam contigo e abracem este mundo tão necessitado de pessoas justas e amorosas como tu. Muito obrigada!

Por que me tornei uma colagista

Em 2001 fiz um auto exílio na Suíça, em função de um casamento. Jornalista no Brasil, lá me descobri uma analfabeta. Além de precisar apre...