quinta-feira, 13 de julho de 2023

Por que me tornei uma colagista

Em 2001 fiz um auto exílio na Suíça, em função de um casamento. Jornalista no Brasil, lá me descobri uma analfabeta. Além de precisar aprender uma língua totalmente estranha, que era o alemão, na época, descobri que nem sempre a língua que se escreve, é a língua que se fala. A Suíça é dividida em cantões independentes (como estados que são autônomos) e em quatro regiões linguísticas, o alemão, o francês, o italiano e o retro romano. Eu fui morar na região alemã. Muito fácil até então. Na prática descobri que eu precisava escrever em alemão, mas falar dependia da cidade onde estava. Falava-se dialetos locais. Como se fosse o suíço, que mudava a cada poucos quilômetros.
Outra descoberta foi a não validade do meu diploma de curso superior. Justo eu que me orgulhava de ter cursado jornalismo na faculdade que era considerada a melhor da América Latina.
Diante de tantos "não" e percebendo que, o exílio escolhido teria que acontecer por um tempo mínimo de um ano, fui atrás de algo que me salvasse. E descobri a arte. Na época, havia um casarão que era conhecido como a Casa dos Dadaístas, o Cabaret Voltaire. Tinha sido lá que o movimento iniciara em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial. O casarão tinha sido vendido, seria derrubado e lá um prédio moderno abrigaria novos negócios. Me interessei por este movimento, o dos dadaístas sobreviventes ou somente admiradores do "ismo" e passei acompanhar as notícias nos jornais, além de fazer visitas regulares ao local e pesquisas na internet sobre o assunto. Os dadaístas ganharam um sala na Universidade de Zurique para seus encontros e eu consegui uma vaga de aluna ouvinte nas disciplinas de Narrativa Angolana e Língua Portuguesa, na Universidade de Zurique, tamanha era minha curiosidade.
Não consegui me aproximar dos dadaístas, mas fiz ótimas pesquisas na Universidade que refletiram no trabalho de colagem que iniciei. Nas colagens, um retrato do que eu via e sentia. Uma profunda desfiguração da sociedade e dos indivíduos. Era o 11 de setembro acontecendo. Era os asilos políticos sufocando uma Europa, que mostrava a sua xenofobia. Era uma mulher, que apesar de tudo, se desmontava e se remontava tão longe das suas origens.

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