domingo, 3 de janeiro de 2021

Abrindo as primeiras páginas de 2021

 Em relação ao blog uma palavra me define hoje: vergonha! Não escrevo aqui desde outubro. A verdade é que não deixei de escrever, mas produzi compulsivamente em diário, redes sociais e para o curso de especialização em artes. Talvez este afastamento do blog tenha sido bom. Para rever o conteúdo e sentir saudade. Para dar vontade de ler ainda mais. De escrever desesperadamente como Carolina.

Iniciei "Quarto de Despejo - Diário de uma favelada", da Carolina Maria de Jesus (editora Ática), no ano passado. Lá por novembro. Confesso que deixei a leitura de lado várias vezes. A temática da fome me embrulhou o estômago e a consciência. Não dá para entender como tanta gente ainda passe por isto. Sinto dizer que fracassamos como seres humanos.


Este não é um livro de ficção, mas um diário de anos, de uma vida real, de uma mulher negra, mãe solteira, que morou na favela Canindé (São Paulo), na década de 1950. São linhas de emoção pura e vivida. Carolina começou a ver sua realidade se modificar quando encontrou o jornalista Audálio Dantas, que era o encarregado de escrever uma matéria sobre a favela à beira do rio Tietê. 

Mulher feita de aço ("... Mas eu sou forte! Não deixo nada impressionar-me profundamente. Não me abato."), Carolina contou sua história, e a de moradores da favela, em cerca de vinte cadernos. Sua escola foi a da observação da vida e principalmente da falta de comida. Dizia que amarelo é a cor da fome. 

A escrita era a sua salvação. Retratar sua vida amenizava as dores de uma vida que não conseguia superar: fome, trabalho marginalizado, mãe solteira, ambiente de favela. Dizia que "o livro é a melhor invenção do homem". Mostrou que a ficção talvez não salve vidas, mas que pode ajudar a superar tantas amarguras.

É livro para ler em algum momento da vida, mas tem que ler. Leitura obrigatória. Para pararmos de reclamar. Para reverenciarmos a vida que temos. Porque problema de verdade é passar fome junto com os filhos.

*leitura 1 de 2021 e vamos manter o ritmo, porque ainda não dá para ficar passeando. Use máscara! Cuide da sua casa, da sua saúde! Não esqueça que a vida em sociedade é feita de compaixão e sensibilidade!


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