“A verdade é que já estava mais do que na hora de voltarmos à Itália, não é mesmo?”, pergunta o narrador, em uma brincadeira autorreferencial, na primeira linha do livro.
É assim que somos apresentados a Roberto Bevilacqua, securitário aposentado, sósia de Marcelo Mastroianni, que inicia sua jornada em busca de dias tranquilos em Roma, apenas com lembranças e remédios.
— Boa noite, Bello.
— Bello?
— Il bello Antonio. É um filme com Mastroianni, no?
— Sim, claro... um dos mais conhecidos.
— Então, vou lhe chamar de Bello. Não gostaria de me referir a um amigo como “senhor Bevilacqua”. Não gosto de senhores. Nem de beber água.
E esta é Serena.
Serena é uma garota com pouca vocação para o rancor, que dita seus atos com base em apenas um critério: ou quer, ou não quer. Se quer dormir, dorme. Se quer comer, come. Se quer beber, bebe. E se quer fazer amor, como ela mesma diz, vai lá e faz. Por isso lambe os dedos quando come algo gostoso. Por isso busca com a língua a gota que se esquiva no fundo da taça. Por isso adormece em qualquer lugar, sozinha ou abraçada à garrafa, ao travesseiro ou a alguém. Por isso goza, não importa a competência do par. Só não precisava me contar esse tipo de coisa, se divertindo em me constranger.
— Respeite os meus cabelos brancos.
— Quando a gente tem cabelos brancos, não faz mais amor?
Deste inusitado encontro entre uma italiana hedonista e um brasileiro viúvo surge uma amizade que não dá bola para os contrastes – ao contrário, se alimenta deles. “A solidão de Roberto, tão europeia, e a espontaneidade de Serena, de brasileira malícia, mostram-nos, brasileiros e italianos, ao mesmo tempo tão distantes e tão próximos”, diz Robertson Frizero, escritor.
A história é conduzida não apenas como um delicioso passeio pelas paisagens e belezas de Roma, mas sobretudo pelos personagens que, muito bem desenhados, mostram um “sofrimento que esmaga, sufoca e quase nunca é percebido”, como conta a escritora Valesca de Assis.
A grande arma de Krause é a capacidade de contar uma história envolvente (tente ler apenas um capítulo!) e com camadas de leitura, cheia de referências gastronômicas, turísticas e cinematográficas, num estilo tão singular que só mesmo ele poderia fazer.
“A verdade é que já estava mais do que na hora de voltarmos à Itália, não é mesmo?”. Depois do sucesso de Pasta senza vino, com certeza os leitores responderão que sim.
A Livraria Cultura teve fila para esta sessão de autógrafos!! E isto é lindo para quem ama livros!
Conversei com o Eduardo um pouco antes do lançamento e já deixamos combinado que vai ter lançamento aqui em São Chico!! Adivinhem onde e qual será o acompanhamento???? Aguardem notícias deliciosas nas próximas semanas!
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