terça-feira, 14 de maio de 2019

Sobre a lógica



Patrícia Soares Viale
Suíça - 10 de outubro de 2002




Um café por favor. Algo mais senhor? Não, obrigado. V. abre sua pequena caderneta de capa vermelha e com a caneta, de tinta também vermelha, escreve algumas palavras… insultos são nada mais que um tronco oco caído ou caindo no solo. Uma boa frase para aquecer os dedos. Seu café senhor. Obrigado. Duas colheres de açúcar fazem V. largar a caneta. Mexe devagarinho a bebida quente e bebe em goles minguados, curtos, quase inexistentes. Antes queimar os beiços do que as mãos. Que arranquem minha língua, mas nunca meus dedos. Preciso manter-me forte para continuar a luta. Já chegam os cabelos que perdi. E a xícara volta ao pires. E a caneta à mão. Que passem todos os cidadãos. Examinarei seus olhos e suas línguas. Não tenham medo. Isso é um exame de rotina. O senhor de passo ligeiro e olhar baixo. Por favor, aproxime-se. Diga „33“. Mais alto. Não, o senhor não está doente, apenas corrompido. Aliviado? Não diga isso. Seu caso pode mais grave que uma anemia. Os glóbulos brancos recuperam-se com vitaminas, ferro e uma boa alimentação. E esse tratamento em nada o ajudará. Com o caráter a coisa não é tão simples. Quantas vezes o senhor baixou a cabeça para alguém? Sentiu-se bem? E por que? Meu senhor, para que eu possa ajuda-lo é preciso muita persistência e determinação de sua parte… ei, onde o senhor vai? E a consulta? Eu não terminei. Isso é meu trabalho. E o sujeito nem pagou. Mocinha, por favor. Sim. Mais um café.
Como vai a senhora? Está tão triste, com os olhos perdidos buscando uma direção, uma referência. O problema é que nada disso existe. Não estou mentindo. Estou tentando salvar sua vida. Sobre a lógica, minha senhora, é melhor fecharmos os olhos e respondermos no escuro. A lógica desse mundo de mapa-mundí e dessa vida talvez esteja em se criar lógicas particulares. Algo próprio. Eu posso explicar melhor, permita-me apenas um gole desse café. Eles querem me calar, mas não irão conseguir. Eu posso tomar isso e sem medo. Senhora, se formos analisar os fatos em um contexto geral descobriremos que nada possui nexo ou sentido. Então, eu mesmo preciso criar a lógica de minha vida. Por que viver(?), por exemplo. Eu vivo porque vim parar aqui. O motivo disso não sei. Colocaram-me, jogaram-me aqui e aqui estou. Por isso vivo. Certo? E qual a lógica sobre eu ter sido jogado aqui? Ah! Essa não existe. Calma, calma, me escute por obséquio. Bem, chegamos em um outro ponto importante. Nesse parágrafo posso dizer que a lógica ainda não tinha sido inventada. E antes da lógica, existe o quê então? Boa pergunta, vejo que és um menino inteligente, apesar desses cabelos. O impulso. O impulso vem antes da lógica, é algo que nasce com todos nós. Pode ser do tipo preguiçoso ou do tipo dinâmico. Às vezes fica anos dormindo e de repente, num salto enlouquecido, golpeia a todos sem dó. Nunca se sabe como esse monstrinho se comportará. Vejam aquele bebê, é um impulso só, nada de lógica. Visualizem o impulso como um grande carneiro de chifres grossos, mas não pontudos. Ele não machuca, ele somente acerta. O carneiro mira, baixa a cabeça e avança. Passa por cima, embola, empurra, desmonta. O impulso não tem freios, somente ação. Repetindo, o impulso pode ser visto como um carneiro, não como uma ovelha. As ovelhas fazem parte de outra lição, que explicarei nas próximas semanas. Então vamos à sequência: impulso, lógica e lógica criada. Quando se chega nesse terceiro estágio é possível perceber que já tens duas cabeças, geralmente uma branca e a outra preta. Mas prestem atenção, essas duas cabeças não pensam da mesma maneira. Nunca. Elas questionam, geram conflitos para então chegar à lógica criada. É um processo divertido, apesar de cansativo. São como essas crianças que já caminham, que mexem nas coisas, requerendo atenção a todo momento. Precisas preparar o alimento diário, levar para passear, trocar as fraldas… é filho teu! Nunca te esqueças disso. Pobres pais que esquecem o impulso, a lógica e a lógica criada. São seres abandonados, largados, sem esperança… onde vocês vão? Esperem, ainda tenho outras coisas importantes para explicar. Mocinha! Sim. A conta. Já foi paga. Por quem, se estou sozinho?

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Gramado receberá edição da Pizza Literária



No dia 25 de maio, sábado, acontecerá a Pizza Literária “As fronteiras rompidas pela literatura” em Gramado (RS). Esta edição do evento, que reúne pizza e literatura, será realizado no Unopar de Gramado, a partir das 19h. “A Boutique convida um escritor ou escritora para apresentar seus livros e conversar sobre o processo criativo. Durante o bate papo são servidas pizzas com sabores relacionados às histórias contadas. A Pizza Literária é uma pequena festa literária, onde o público pode conversar diretamente com o autor e compreender melhor o universo das histórias narradas”, conta Patrícia Viale, idealizadora do evento.
Nesta edição serão três convidados: Júlio Ricardo da Rosa, autor de “O Viajante Imóvel”, Eduardo Krause, autor de “Pasta Senza Vino” e “Brava Serena”, e Carina Luft, autora do livro “Verme”, todos publicados pela editora Dublinense. O livro “Verme” é muito atual, conta os encontros e desencontros de um homem que se dedicou a um trabalho não muito honesto na polícia, O delegado Weber, que escolheu a serra gaúcha para viver o fim da vida. É neste cenário serrano que ele fica observando as araucárias e remoendo suas culpas.
“O Viajante Imóvel”, de Júlio, apresenta dois personagens: Vítor Assis e Félix Kölderlin. Um busca o mundo, o outro foge dele. Personagens diferentes, mas que se complementam durante toda a história. O livro narra aventuras e apresenta reviravoltas, que fazem o leitor dar continuidade na leitura, numa velocidade voraz. Júlio Ricardo da Rosa nasceu e vive em Porto Alegre. Durante os anos 80 escreveu sobre cinema para vários jornais gaúchos. Júlio também publicou os livros “Beijos no escuro”, “Veludo”, “O segredo de Yankclev Schmid” e “O Covil do Diabo”.
Eduardo Krause é publicitário, passou uma temporada em Florença (Itália), que o inspirou a escrever as façanhas e aventuras de Antonello, o sedutor de “Pasta Senza Vino”, que faz descobertas importantes no Brasil. Já “Brava Serena” retoma a temática ítalo brasileira prestando tributo à Roma e ao ator Marcello Mastroianni.
Os convites antecipados para a edição de maio do Pizza Literária estão à venda por 94 reais (dão direito às pizzas, pães, antepastos, água saborizada e vinhos). Os livros dos escritores estarão à venda no evento, com valores promocionais. Local: Unopar (R. Pref. Nelson Dinnebier, 463 - Gramado - RS) Telefone para informações e compra de convites: 54 99925.5761, com Patrícia Viale.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Palmas!!!!

E no dia da Literatura Brasileira, as palmas e a pizza irão para O Covil do Diabo, de Júlio Ricardo da Rosa, porque eu sou fã deste livro.

Este é o Júlio


Pizza Covil do Diabo, carne seca/charque com milho, inspirada no livro

Júlio, Covil do Diabo, Patrícia, Pizza Literária: nós somos felizes!

Luiz de Souza em Gramado

Luiz de Souza, renomado artista plástico, expõe obras na Galeria Arte12b
É difícil não se impressionar pelas obras do premiadíssimo artista plástico Luiz de Souza.
Sua a maestria em contrastes com claro e escuro, luz e sombra, provém dos artistas clássicos renascentistas.

Atualmente pertence à escola artística literária do realismo fantástico. Luiz também é adepto do trompe-l'oeil – técnica artística que, com truques de perspectiva, cria uma ilusão ótica que faz com que formas de duas dimensões aparentem possuir três dimensões.


Na Galeria Arte12b, apresentamos sua nova série "Mãe Natureza", composta de oito desenhos conceituais. 
Em uma iniciativa beneficente, o artista oferece parte das vendas para a ONG Atitude na Cabeça, que confecciona perucas para pessoas com patologias que causam a total ou parcial perda dos cabelos, como o câncer.

Conheça algumas obras desta série:




Galeria Arte 12b
Rua Dr. Ricardo Sturmhoffel, 120
Gramado . Rio Grande do Sul . Brasil

São Chico internacional


Que vergonha para quem se diz jornalista e escritora, um blog sobre leituras e textos defasado e atrasado!! Perdão! A vida está me atropelando e eu pouco consegui fazer até a tarde de hoje, quando me senti imensamente insatisfeita por não estar escrevendo.

Perdão!!
Perdão!!
Perdão!!

Tenho tanta coisa para contar, então vamos lá! No final de abril ajudei a produzir uma aula do quinto ano, a turma da Maria Rita, lá no Colégio Expressão. Foi uma aula sobre a formação do povo brasileiro. A profe Daiana estava explicando a diversidade de culturas, que formou o brasileiro e surgiu a ideia de buscar estrangeiros, que moravam em São Francisco de Paula/RS e que pudessem contar sobre a sua vinda para nossa cidade. E quem nasce em São Chico é chamado de serrano.



O Günther Klemann veio da Alemanha, meu professor de alemão, todas as segundas feiras, aqui na Boutique de Livros e Pizzas Viale. Sim! Temos uma turma de alemão, que toda semana pratica e escreve o idioma, além de tentar leituras em alemão gótico. Bem, o Günther veio para o Brasil com sete anos e sempre morou em Porto Alegre/RS. Jornalista aposentado, veio morar em São Francisco de Paula atraído pelo frio.



Já o Moussa Gning veio do Senegal, um pequeno país/ilha, com água por todos os lados e com uma população de cerca de 15 milhões de pessoas. Ele veio para o Brasil para ter novas vivências. Contou que a educação é muito boa no seu país e que nas escolas se enfatiza o aprendizado de vários idiomas. Talvez por isto os senegaleses gostem tanto de viajar. Moussa tem um irmão morando em São Paulo e foi para lá vivenciar o ritmo de vida de uma metrópole, mas não gostou. De andança em andança, passou por Caxias do Sul, trabalhou na área dos vinhos e teve a indicação do amigo Oumar (que também colaborou neste trabalho da Maria Rita), de que viesse passar o final de semana em São Chico. Veio, gostou e ficou. Formado em Comércio Internacional, Moussa vende suas mercadorias nas ruas e pela internet.

Turminha de quinto ano. Maria Rita ali no meio

Profe Dai, super exemplo de educação humanizada




O Moussa gostou do estilo de vida aqui em São Chico e acabou ficando. Fez amigos, fez clientes. O pai do Moussa sempre disse para ele e os irmãos de que é preciso estudar e aprender mais de um ofício, porque assim a pessoa aprende a se virar em qualquer lugar. E o Moussa frisou isto com a gurizada. Lembrou eles de que professor e professora são as pessoas mais importantes, porque eles nos ensinam a fazer muitas coisas interessantes.



A criançada anotou o que foi dito, perguntou sobre o estilo de vida de cada um, alimentação, particularidade das línguas.





Mas o mais legal foi o recado final dos dois para esta turma: de que é preciso resgatar o espírito comunitário, o cuidado com a própria cidade e com seu povo. Tanto o Günther, como o Moussa acreditam no potencial de São Francisco de Paula como uma cidade próspera e unida, com um povo responsável. No final a gurizada aplaudiu os estrangeiros serranos! Por mais aulas como esta! Sempre!


Por que me tornei uma colagista

Em 2001 fiz um auto exílio na Suíça, em função de um casamento. Jornalista no Brasil, lá me descobri uma analfabeta. Além de precisar apre...