domingo, 12 de janeiro de 2020

Xingar ou não xingar


Para ler este livro precisei de muita água, marcador de texto e algumas caminhadas com as mãos na cabeça. Nada fácil ler um livro, numa época tão intransigente, que diz que discordar é importante. Leonardo Sakamoto não é jornalista que busca projeção para si. Ele busca projeção para os direitos humanos de cada um de nós, estejamos nós entre a maioria ou as minorias. O livro "O que aprendi sendo xingado na internet" não é para jornalistas. É para pessoas normais que usam a internet. Não é um manual de boa conduta virtual (mas esclarece e orienta muito), mas um livro com referências, exemplos e consequências sobre o quê a irresponsabilidade pode provocar. Leitura obrigatória em todos os lugares.

Meu livro está todo marcado, anotado. Gosto de debater com aquelas frases que me tocam. Sinceramente: nunca fui xingada na internet. Talvez porque até então eu não tenha me envolvido em assuntos polêmicos. Mas recentemente fui denunciada por um vizinho por ser um risco para as demais casas da rua Alziro Torres Filho, lago São Bernardo, aqui em São Francisco de Paula, região serrana do Rio Grande do Sul.

Deixa eu me explicar: moro numa casa grande, linda e colorida!


E junto a esta casa mantenho uma Boutique de Pizzas e Livros, que leva meu nome: Viale. Tudo devidamente registrado, carimbado, protocolado, licenciado. Pois o meu vizinho resolveu criar a verdade dele e denunciar na Prefeitura da minha cidade, de que eu mantinha fornos acesos 24 horas por dia, sendo potencialmente um risco de incêndio na rua. Também chamou minha casa de "lugar de mau gosto, que desvalorizava a rua, que se situa em zona nobre". Vou citar apenas duas "verdades" das quase três páginas que o senhor alegou como irregular.

Recebi os fiscais. Abri a Boutique para a vistoria e nada foi encontrado. Tudo dentro dos conformes e das leis. Agora vem a questão: pensei rapidamente em procurar um advogado. E procurei. Me preparei para abrir um processo por difamação, pedir indenização, etc. Até que o livro do Sakamoto caiu em minhas mãos. Vizinho agradeça!!!!

Leitura atenta durante as 158 páginas e no capítulo "Por que devemos continuar resistindo" começei a perceber que resolver picuinha na justiça era vestir a mesma fantasia do senhor mal amado. A prova de que tenho uma outra visão sobre a vida é minha casa ser colorida. Eu acredito na diversidade em todos os patamares. Eu acredito na alegria como arma de resistência. Eu sou uma pessoa que aceita a vida e que procura transformar situações tristes e negativas em lições de superação.

Decidi retomar meus eventos, abrir a Boutique TODOS os dias da semana, apresentar artistas e criadores para São Chico e todas as pessoas que passam por aqui. Eu decidi viver e não me esconder. A vida tem me dado o recado: hoje nove pessoas, de outras cidades gaúchas, passaram por aqui e só elogiaram a proposta da Boutique e seu bom gosto. Alma lavada! A vida dá voltas e nos mostra que quem têm valores que prezam a vida sempre vivem bem. Obstáculos e pedrinhas no caminho acontecerão. Mas a paz ajuda a transpor cada uma delas. Obrigada Sakamoto!! Aqui resistimos com alegria, pizza, livros e muita cor!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por que me tornei uma colagista

Em 2001 fiz um auto exílio na Suíça, em função de um casamento. Jornalista no Brasil, lá me descobri uma analfabeta. Além de precisar apre...