segunda-feira, 20 de abril de 2020

Quando a Peste se repete

Camus publicou "A Peste" em 1947. Tudo se passa numa cidade chamada Oran "uma cidade comum e não passa de uma prefeitura francesa na costa argelina (pg 07)". Um cidade feia, sem jardins, sem árvores. O que faz uma cidade querer ser viva se não tem a natureza, a própria vida? O livro inicia numa desoladora descrição da cidade e qualquer leitor bem percebe que este cenário árido terá consequências duras. Ainda na página 07 "nossos concidadãos trabalham muito, mas apenas para enriquecer". Opa!!!!! Estamos onde mesmo? Aí começa toda uma semelhança com que estamos vivendo em 2020. Não se preocupem , não irei escrever comentários sobre cada página. Não é esta a intenção do blog. Mas este grifo inicial precisava ser feito. Por que?

Para lembrarmos que a lei da ação e da reação existe tanto na literatura, quanto na vida real. Nada saí do nada. Tudo evoluí para um caminho que já foi traçado. Por cada um de nós. Se sou uma pessoa que não limpa o meu ambiente, posso esperar um ambiente limpo num piscar de olhos? Então, como as pessoas podem esperar uma cidade harmoniosa se nada fazem por isto? Se o único objetivo é enriquecer?

Estamos falando de que época mesmo? A Peste não é um livro que busca catequizar ou dizer onde estão os culpados, quem são as vítimas. O livro de Camus é simplesmente para ser lido e reconhecido, porque as coisas só existem quando são reconhecidas. Puxando rapidinho para este cenário de Pandemia do Covid 19, no Brasil, sobre a distribuição dos seiscentos reais para trabalhadores informais, o Governo Federal "acaba" de descobrir que existem cerca de 50 milhões de brasileiros "invisíveis". Entende a diferença de existir e ser reconhecido? Existir todos existimos. No nosso mundo individual. Mas reconhecimento é o que nos faz existir no contexto chamado sociedade. Aquele mundo onde reunimos indivíduos e nos reconhecemos como coletivo. Reconhecimento se faz com olhar direcionado ao outro.

A Peste não busca nada. A Peste só está ali, publicada e disponível em livro, para ser lida como uma história. História esta que pode ser real ou ficção, mas é história. E histórias nos mostram situações, fatos, sentimentos. Histórias se deixam ser apropriadas, abraçadas ou repelidas. As páginas desta leitura se aproximam dos meses de março e abril de 2020, no Brasil, no mundo. Será que Camus previu a pandemia do Covid? Não! Camus, na verdade, interpretou a alma humana. Um escritor observador sabe ler amores, gratidões. Assim como sabe enxergar ingratidões, intolerâncias e egoísmo. E estes são os elementos básicos do ser humano. Numa crise, como a atual, tudo se ressalta. Somente isto.

Talvez a pressão atual seja imensa e a leitura de A Peste não seja indicada neste momento, dirão alguns. Mas eu digo: se você tiver a oportunidade de ler AGORA este livro, LEIA. Não para entrar em pânico (até porque o autor não trabalha com esta característica: estimular o pânico!), mas para resgatar a sua alma neste super momento de crise. SEJA HUMANO AGORA! NÃO ESPERE UMA MORTE PRÓXIMA ACONTECER PARA SENTIR ALGO! E lembre-se de que na vida nada é definitivo ou concreto. PERMITA-SE VIVER COM ALEGRIA, NESTE EXATO MOMENTO, POR SOMENTE ESTAR VIVO.

*fique em casa, se puder. use máscaras, se precisar sair. cuide-se. ame-se. HOJE!
#jornalistanaquarentena






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