segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

A cura


 

A doença é um desequilíbrio, uma oscilação entre dois estados. Não existe mais a harmonia no ser. E sem harmonia nos resta uma existência com idas e vindas entre transtornos e falta de respostas. Doente pode ser nosso corpo ou nossa alma. Doente pode ser nossa mente, nosso comportamento. E só sabe que está doente quem reconhece os sintomas, quem procura um médico, terapeuta. É preciso um diagnóstico para a busca do medicamento correto, do tratamento adequado.

O que sabe o doente sobre diagnóstico, se seu corpo arde em febre? E a febre sinaliza que algo está errado, muito errado. Estamos todos febris. Nossas doenças sinalizam desequilíbrios antes escondidos. Desarmonias que sequer desconfiávamos habitarem em nós. Como vivemos tanto tempo sem nos olharmos no verdadeiro espelho da vida? Para toda ação uma consequência. E todo este não olhar gera cegueira. Cegueira que inicia no indivíduo e se propaga no coletivo. A soma de um mais um, sucessivamente, torna-se igual a um pequena multidão. E de multidão em multidão, o volume cresce consideravelmente, que já nem nos distinguimos além do movimento.

Doenças não pedem movimento. Doenças são pura apatia, acomodação. Doenças são falta de energia. São falta de mudança. por isto insistem em nos adoecer. Corpo e alma. Doenças precisam de cura. E cura é movimento. Cura é quebra de paradigma, é quebra do estático. A cura se faz no colocar um pé diante do outro e voltar a caminhar. A cura vem com a decisão de ouvir um diagnóstico e aceitar que é preciso modificar hábitos, condutas, pensamentos, sentimentos. A mudança da doença para a cura vem com a ativação de células, corrente sanguínea, de sentir dor, amor. E o sentir vem carregado de uma nova visão. O ver sem véu, sem lentes. O ver sem medo. O ver querendo mudar.

Na cegueira o olho se perde em ausência de movimento. Nada podemos, a não ser esperar a tormenta desandar ou se perder em nuvens escuras, que são sopradas pelo tempo.

A cura só virá quando nos abrirmos para o movimento. Nada radical. Nenhuma salto acrobático. Apenas o movimento de voltar a respirar. E no respirar se curar.


*usem máscara, mas respirem com suavidade!

domingo, 3 de janeiro de 2021

Abrindo as primeiras páginas de 2021

 Em relação ao blog uma palavra me define hoje: vergonha! Não escrevo aqui desde outubro. A verdade é que não deixei de escrever, mas produzi compulsivamente em diário, redes sociais e para o curso de especialização em artes. Talvez este afastamento do blog tenha sido bom. Para rever o conteúdo e sentir saudade. Para dar vontade de ler ainda mais. De escrever desesperadamente como Carolina.

Iniciei "Quarto de Despejo - Diário de uma favelada", da Carolina Maria de Jesus (editora Ática), no ano passado. Lá por novembro. Confesso que deixei a leitura de lado várias vezes. A temática da fome me embrulhou o estômago e a consciência. Não dá para entender como tanta gente ainda passe por isto. Sinto dizer que fracassamos como seres humanos.


Este não é um livro de ficção, mas um diário de anos, de uma vida real, de uma mulher negra, mãe solteira, que morou na favela Canindé (São Paulo), na década de 1950. São linhas de emoção pura e vivida. Carolina começou a ver sua realidade se modificar quando encontrou o jornalista Audálio Dantas, que era o encarregado de escrever uma matéria sobre a favela à beira do rio Tietê. 

Mulher feita de aço ("... Mas eu sou forte! Não deixo nada impressionar-me profundamente. Não me abato."), Carolina contou sua história, e a de moradores da favela, em cerca de vinte cadernos. Sua escola foi a da observação da vida e principalmente da falta de comida. Dizia que amarelo é a cor da fome. 

A escrita era a sua salvação. Retratar sua vida amenizava as dores de uma vida que não conseguia superar: fome, trabalho marginalizado, mãe solteira, ambiente de favela. Dizia que "o livro é a melhor invenção do homem". Mostrou que a ficção talvez não salve vidas, mas que pode ajudar a superar tantas amarguras.

É livro para ler em algum momento da vida, mas tem que ler. Leitura obrigatória. Para pararmos de reclamar. Para reverenciarmos a vida que temos. Porque problema de verdade é passar fome junto com os filhos.

*leitura 1 de 2021 e vamos manter o ritmo, porque ainda não dá para ficar passeando. Use máscara! Cuide da sua casa, da sua saúde! Não esqueça que a vida em sociedade é feita de compaixão e sensibilidade!


Por que me tornei uma colagista

Em 2001 fiz um auto exílio na Suíça, em função de um casamento. Jornalista no Brasil, lá me descobri uma analfabeta. Além de precisar apre...