Bandeira Branca, Covid!
Eu levanto a bandeira branca da trégua, senhor vírus. Eu peço paz! Já arrumei
minha casa quatrocentas vezes, mudei os móveis de lugar outras quinze vezes.
Tirei o pó dos 376 livros da minha biblioteca. Li e reli os volumes de literatura
francesa e russa. Cataloguei os de literatura brasileira por escolas literárias
e meu desafio, agora, será acompanhar as transições entre romantismo,
naturalismo, realismo e modernismo. Acordei cedo, dormi cedo. Acordei tarde,
dormi tarde. Tive insônia. Usei o sono como fuga. Assisti “lives”, imprimi
certificados de aulas on line. Comprei comida de todos os deliverys da cidade.
Dançei com todos os CDs de música eletrônica, anos 90, guardados na caixa de
cima do armário. Cataloguei todas as fotos do computador por assunto. Escaneei
todas as fotos de papel e distribuí para a família. Fiz três receitas de pão.
Uma deu certo. Nas outras duas desastre. Levei lanchinho para a minha vizinha.
Recebi sobremesa da vizinha. Senti euforia, depressão, preguiça, raiva, paixão.
Conheci o tédio, o inconformismo, a vaidade e o descontrole. Me permiti deixar
o cabelo crescer livremente. Ganhei máscara de proteção, comprei máscara. Usei máscara.
Não fiz máscaras. Limpei as solas dos sapatos. Mandei mensagem de perdão para
cinco pessoas. Recebi resposta de três. Fui bloqueada por duas. Vi bandeira
vermelha e laranja na minha cidade.
Mas de verdade eu quero
bandeira branca. Não é para voltar à vida de antigamente. Nestes quatro meses
de isolamento social eu percebi que minha família me faz falta. Minhas amigas
me fazem falta. Meus colegas de trabalho me fazem falta. Pessoas e ausências
não combinam. Pessoas ocupam espaço. Não só espaço físico, mas espaço no
coração. E coração com lacuna é coração com saudade. “Pela saudade que me
invade, eu peço paz”.
o artista não pode ser enjaulado, penso que deves criar um canal de interação cultural, tens tudo para isso, e eu acompanharia com certeza, quem sabe um programa de entrevistas, capoeira, teatro, danças, com quem foram as referencias, histórias "temperos" - Não só acompanharia, como divulgaria com muita alegria. Sou fã!
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