segunda-feira, 18 de junho de 2018

Um dia na vida de Ivan Denissovitch



Alexandre Soljenitsin. Este é o escritor que escolhi para iniciar a Copa Literária na Rússia. Ao invés de assistir futebol (coisa que não sou muito fã!) optei por conhecer escritores russos. A ideia surgiu na Biblioteca Pública Elyseu Paglioli, aqui em São Francisco de Paula/RS. Dezenove livros de literatura russa para ficarmos tentados a ler muito!! E escolhi o primeiro: Um dia na vida de Ivan Denissovitch!!



Ler literatura russa em dias gelados (como estão fazendo aqui!!) ajuda a diminuir o frio. Verdade? Sim! A dureza dos textos russos nos faz esquecer os contratempos e imprevistos da confortável vida moderna que vivemos.


Soljenitsin nasceu em 1918, em Rostov, nas margens do rio Don. O pai, escriturário. A mãe, professora primária, que educou o filho escritor. Se licenciou em matemática na Universidade Rostov, tirou curso de literatura por correspondência, foi chamado para o Exército Vermelho. Em 1945 foi preso numa aldeia da Prússia Oriental, ocupada pelos russos. Ele foi acusado de ter feito comentários depreciativos sobre Stálin. Foi condenado a oito anos de trabalhos forçados, nos "campos gerais" (no Ártico) e nos "especiais". Venceu um cancer. Teve seu caso revisto e a sentença anulada. Estabeleceu-se numa aldeia perto da cidade de Riázan, na Rússia Central. Casou com uma professora de química e passou a dar aula de física e matemática numa escola secundária. Começou a escrever literatura. Teve problema com a política russa, mas não com a literatura. Em 1970 recebe o Prêmio Nobel. Mais do que uma obra reconhecida, Alexandre Soljenitsin, teve uma vida premiada. "Um dia na vida de Ivan Denissovitch" é um testemunho da injustiça.



"Mantenha a cabeça erguida!", o grito que, num episódio desta novela, alguém lança ao preso que vai para o castigo, traduz esta obstinação, esse orgulho final, que é o último recurso do humilhado, para conseguir afirmar, apesar de tudo, a sua condição de homem livre, a sua dignidade."



Um livro que te faz pensar no sabor de uma "kacha" (ensopado de aveia) mal feita. Uma história que te faz mergulhar num frio de quarenta graus negativos. Não, eu não sei o que é isto. Eu tenho medo de frio. Eu me apavoro com temperaturas que não me permitam suar. Um prato de comida determina regras de conduta. Quanto mais gramas forem retiradas da tua ração diária, mais tu mostrará a tua falta de humanidade.


Escolhi este título para ser a primeira leitura da Copa Literária Russa. Não se trata de um texto fácil (principalmente neste início de inverno congelante). Não espere entretenimento, muito menos leveza. A realidade não comporta estes ingredientes. O real é feito de matéria bruta e áspera. Mas quando conseguimos trabalhar esta argamassa toda com espiritualidade, os movimentos do corpo e da alma se suavizam. Não como um milagre, mas como dar alguns passos para trás afim de tirar a luz dos olhos. Nada mais ofusca, nem atordoa. E a vida se torna possível, apesar do cenário.

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