sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Correr com rinocerontes

Os rinocerontes machos adultos são animais solitários e territoriais. Jovens adultos podem formar pares. As fêmeas e suas crias formam grupos familiares e as fêmeas do rinoceronte-branco pode formar pequenas manadas.

Machos dominantes do rinoceronte-indiano toleram machos submissos em seu território. Quando dois machos dominantes se encontram, eles duelam usando suas presas e muitas vezes essas lutas resultam em mortes.
Os rinocerontes marcam os seus territórios com urina e excrementos, que acumulam em pilhas bem definidas e que podem atingir um metro de altura. Ui!!!!
Rinocerontes podem parecer animais estranhos, com características físicas de uma era distante. Ser estranho não significa que  o ser não exista. Mas que ele existe, vivendo uma vida não padrão. Um rinoceronte é um animal não padrão.
"Correr com Rinocerontes", livro de Cristiano Baldi, publicado pela editora Dublinense é muito disto. Vidas, aparentemente padrões, que se tornam estranhíssimas, conforme vão se revelando. E o que pode existir de mal nisto? Nada. A não ser a opinião alheia, para aqueles que se protegem no mundo da culpa, por não serem iguais aos outros.
Uma família que finge ser algo que não é. Um status de vida que finge existir. Uma loucura guardada, na última gaveta, daquele armário escondido, atrás da escada que vai para o sotão. Quantas portas já foram abertas? Quantas já foram trancadas?
E quem é igual a quem? Um narrador prepotente e arrogante. (Será?) Ou um narrador eficiente dentro do mecanismo de defesa necessário para esta vida? A escrita é genial. A intenção de chocar é genial. Choramos, rimos, sentimos raiva, sentimos a alma sendo lavada, sentimos que somos a própria lama. Como a gente foge da vida. A todo instante.
Uma amiga amiga, a Ana Godinho, disse que o livro é fratura exposta, que faz doer as nossas dores. Aliás, não contei como li este livro. Eu, a Ana, a Lu Muratorio e a Vivi Bezzi criamos um grupo de leitura (Luluzinhas da Literatura). Nos encontramos uma vez por mês, em Gramado (onde moram a Lu e Vivi), ou em São Chico (onde moram eu e a Ana). Por falar nisto, nem as cidades são poupadas no livro. Ah!! Não, não somos boas e chatas moças. A gente questiona muito, a gente fala palavrão e muitas vezes queremos enforcar alguém. Mas também pensamos que o mundo não é privada para ficar recebendo nossa merda. Por isto a gente lê junto. Para ter o que fazer e não incomodar a vida alheia. E este RINOCERONTE nos deixou tontas. De dor. 
O narrador passa o tempo todo esfregando na tua cara que a vida não é nada do que idealizamos. O leitor não consegue fugir, não consegue abraçar a ilusão. Tem que se olhar no espelho. E daí tu descobre que passa a vida toda se abastecendo de ilusões para fugir da vida real: aquela que é tão simples, que incomoda prá caramba.
O livro têm pessoas de mentira e pessoas de verdade. Tu escolhe teu time. O livro tem tragédias ou se preferir: fato real. O livro não tem paparicação alguma. Vale ler? Ô!!! E como vale. E conforme a leitura vai sendo feita tu percebe que a couraça do rinoceronte de nada vale aqui. Corre com eles. É melhor!

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