terça-feira, 30 de março de 2021

ContFarma inaugura em São Chico

 

 

Na foto, o pai Bandoca, a mãe Candida, o filho Davi e a empreendedora Cristina, foi assim que a Contfarma foi criando vida. Era uma conversa em família, no início da pandemia do covid 19, e o pai, Sergio Foscarini, o Bandoca, ex prefeito de São Francisco de Paula,  surgiu com a ideia de empreender no bairro que acolheu a família por três gerações, o bairro Cipó. Os avós, Avelino da Silva e Deolinda Foscarini da Silva vieram da colônia e abriram uma “bodega”, um pequeno mercadinho no bairro, nos anos 50. Na frente o mercadinho, atrás a casa da família, no terreno ao lado criavam uma vaca para produção de leite para a família. O casal e seus oito filhos começavam a vida na cidade de São Chico. Eles acreditavam no potencial da cidade para crescer.

 

Cristina e parte da família

Os anos se passaram, Bandoca casou com a Maria Cândida Terra e tiveram as filhas Cristina, Larissa e Dóris. Cristina foi estudar e morar em Porto Alegre. Formada em Farmácia e casada com Marcelo Dutra morou e trabalhou em Porto Alegre e Caxias do Sul, até a pandemia e o isolamento social reunirem a família novamente, em São Francisco de Paula. Nesta temporada em São Chico e conversando muito com o pai, Cristina viu um novo potencial no bairro que marcou sua infância, e pensou na abertura de uma farmácia de bairro, com serviços diferenciados: “Investir onde minha família começou, investir na minha cidade oferecendo meu trabalho de farmacêutica, que tanto amo, é uma proposta de vida que me fascinou, principalmente neste cenário de insegurança causado pelo vírus”, afirma Cristina.

 

ContFarma em São Chico

Assim surgiu a ideia da ContFarma, a farmácia no container, com proposta e design inovadores, que muito além de vender medicamentos e perfumaria, oferecerá serviços de saúde para a comunidade. Serão estes: aferição pressão arterial; controle de glicemia; controle temperatura corporal; controle da saturação de oxigênio; aplicação de injetáveis; consulta farmacêutica; testes de triagem para covid e colocação de brincos.

“A pandemia do covid 19 nos fez repensar a vida, a relação com a nossa comunidade. Quero me sentir útil para os meus. Minha profissão, farmacêutica, lida diretamente com saúde e cuidar da saúde dos outros é uma declaração de amor. E se eu posso fazer isto, na minha cidade, fica melhor ainda”, conclui Cristina.

 

Serviço:

ContFarma

Rua Curupaiti, 721- bairro Cipó – São Francisco de Paula/RS

(54) 99935-9741

contfarma.farmacia@gmail.com

Horário: segunda a sexta 8h às 18h; sábado das 8h às 12h

 

domingo, 28 de março de 2021

A crônica da meia

 As gavetas de nossas casas guardam mistérios. É lá que pares de meias se divorciam. E sequer percebemos. Meias não mentem. Quando se perdem indicam desatenção dos seus donos. Mas onde se perderam? Quais foram os caminhos do afastamento? A máquina de lavar quando centrifuoua? Os tênis da caminhada que evaporaram as meias? A preguiça de colocar a roupa usada no cesto da roupa suja?

Dia a dia vamos perdendo pequenos detalhes. Sejam do nosso vestuário, ou da nossa rotina. Vamos deixando para lá coisas tão miúdas, como meias. E de uma a uma, a miudeira se torna uma montanha gigante de pequenices banais. Tem meia poá, verde, listrada, branca com emoji de coração. Tem meia furada e outras puídas. Tem meia comprida e também curtinhas. Vai arrumar a gaveta ou só deixar prá lá? E vem o outono se aproximando. Com pés frios nos finais de tarde.

E se arrumarmos a gaveta vamos saber o que precisaremos. Mais meias ou organização? A vida não precisa de imensas reformas. A vida precisa de pequenos olhares, todos os dias. Olhares de atenção para o que somos e o quê sentimos. Viver é como a gaveta das meias: às vezes tediosa, às vezes interessante. Depende do olhar que botamos ali.

segunda-feira, 15 de março de 2021

Só renasce quem já morreu


 Eu morro todos os anos em duas datas. No dia 13 de janeiro, data em que meu irmão Francisco se acidentou de carro e me botou de frente com a existência real da morte. E nas proximidades de 16 de março, quando ele partiu de vez, depois de 63 dias em coma, em  uma fulminante parada respiratória. Ver meu irmão, na época com 28 anos, morrer foi das situações mais aterrorizantes que presenciei. Mortes inesperadas, de pessoas jovens cheias de saúde, comovem, destroçam, parecem ser anti naturais. Há 14 anos, no verão reproduzo as sensações daquele período. Os médicos, especialistas em luto, dizem que as nossas células fazem um registro destes momentos de dor intensa e que nos tais aniversários das experiências reproduzimos o registro. Todo ano tento controlar a ansiedade, a tremedeira, o choro compulsivo. Ano passado perdi a mão com a pandemia do covid. Este ano parece que vou perder de novo. Não sei fazer outra coisa a não ser chorar e escrever. Escrever para expurgar uma dor que nunca será domada. Ela é selvagem, finge ser domesticada, mas quando menos imaginamos explode em reações estranhas. No verão passo o tempo todo pedindo desculpas pelas minhas oscilações de humor, por uma quase histeria que esta dor me causa.

Sou a irmã mais velha. Depois vem a Cintia e o Francisco é o caçula. Nasceu prematuro, num parto complicado que quase levou nossa mãe. Ele foi o pequeninho da casa, que superou todo tipo de adversidade desde muito cedo. Eu observava meu irmão e pensava que a cada novo episódio da vida ele iria se desmontar. E ele se reconstruia. Capricorniano determinado aos extremos. Saiu de casa cedo, trabalhou cedo. Tudo foi cedo demais na vida dele. Até a morte. Era ele que me puxava as orelhas quando eu insistia em erros bobos. Era ele meu conselheiro para assuntos amorosos e profissionais. Era ele que enxergava meu talento quando eu queria fugir do mundo.

Meses antes do acidente ele me telefonou e me convidou para trabalharmos juntos. "Paty, vamos abrir uma empresa para escrevermos publicações técnicas, livros sobre turismo". Ele fazia uma especialização em Turismo, eu era assessora de imprensa em eventos. Topei na hora. A empresa foi batizada como Visit. Foi aberta. Mas não deu tempo de nada. Fomos atropelados pelo acidente. E eu briguei com Deus. Me senti perseguida, me senti abandonada.

Naqueles dias do coma do Francisco presenciei uma lágrima escorrendo do olho que ainda estava  são (no acidente meu irmão perdeu um olho, teve rompimento da carótida, traumatismo craniano. Teve o baço atingido). Uma lágrima enquanto eu cuidava dos pés dele. Enquanto eu massageava os pés dele conversava sobre todo tipo de assunto. Era nossa rotina. Contei para ele que faríamos um tapa olho e que ele seria o homem mais charmoso do mundo de tapa olho. Falei que iria massagear os pés dele todos os dias e que ajudaria em todas as sessões de fisioterapia. Eu não aceitava a morte naquele instante. E foi quando vi a lágrima escorrer. E eu chorei junto com ele. De alegria. Meu irmão estava vivo! Estava em coma, mas estava vivo. E eu chamei as enfermeiras, liguei para a família e prometi para Deus que daria meu maior talento, a escrita, em troca da vida do meu irmão. Meu irmão estava vivo. E naqueles últimos quinze dias da vida dele presenciei situações que só a espiritualidade nos proporciona. Ele falava comigo por aquele olho. Ele falava comigo por sonhos e silêncios. E quando enterrei meu irmão, em 17 de março de 2007, prometi que nunca mais escreveria, porque ele estava vivo espiritualmente e tinha me ensinado, naqueles poucos dias, que a vida é muito maior do que os nossos olhos conseguem enxergar. Eu tinha feito as pazes com Deus.

Voltei a escrever três ou quatro anos depois. A Lisiane Berti me convidou para escrever uma peça de teatro sobre sentimentos reais (Fantoches) e eu me permiti. A Associação Chico Viale me chamou a voltar a escrever para salvar vidas. Eu escrevo para viver, para amansar esta dor que tentou me matar, mas não conseguiu. Nesta pandemia fiz as pazes, em definitivo, com todas as minhas perdas. Como eu escrevi, no início, estou em dias de morrer. Mas quem morre renasce. A vida me ensinou isto.



quarta-feira, 10 de março de 2021

Um mundo diferente


Adriana lança novo livro infantil: "Um mundo diferente"

São Francisco de Paula – Foi durante o mestrado em Ambiente e Sustentabilidade, que Adriana Borella Pessoa se inspirou para escrever e ilustrar o livro “Um mundo diferente”. Com incentivo da Lei Aldir Blanc do Município de São Francisco de Paula, a publicação será lançada na quinta-feira, dia 18, durante transmissão ao vivo no Facebook, a partir das 20 horas.

Durante o bate-papo com a jornalista Sandra Hess, da Z Multi Editora, Adriana contará sobre este novo projeto. Com 24 páginas, o livro infantil aborda assuntos relacionados ao meio ambiente e sustentabilidade através dos amigos Helena e Miguel. A autora é professora, licenciada em Pedagogia pela UFRGS, especialista em Arte/Educação: Arte, Ensino e Linguagens Contemporâneas. Já publicou outros dois livros: “A curiosidade de Cauá” e “Que tal conhecer São Chico?”.

O encontro será no Facebook, em transmissão ao vivo no Watch ou na página da Z Multi Editora. Após, o bate-papo ficará disponível na página da editora ou no perfil da autora, que é adriana.borellapessoa. O livro poderá ser adquirido no valor de R$ 20,00 através do whatsapp 54 99668-2778 ou no site zmultieditora.com.br.

Inspiração - O livro trata de um produto do Mestrado Profissional em Ambiente e Sustentabilidade pela UERGS de São Francisco de Paula, que iniciou em 2019 e encerra este ano com a defesa da dissertação. Um capítulo aborda a importância da literatura infantil na (trans)formação dos sujeitos.

SERVIÇO:

Lançamento do livro “Um mundo diferente”, de Adriana Borella Pessoa

Dia: 18 de março (quinta-feira)

Hora: 20 horas

Transmissão pelo facebook.com/zmultieditora

Informações: 54 99668-2778



 

terça-feira, 9 de março de 2021

A retomada Xocleng, em São Chico


O Brasil perdeu sua identidade antes mesmo de se reconhecer como uma terra distinta. Era território de índios, de soberanias indígenas. Se perdeu na chegada de colonizadores brancos, que eram dominadores. Abusou quando fez outros povos como escravos, os índios e os negros. Ignorou princípios básicos da vida. Diferenciou por cor. Não reparou que a natureza se faz de muitas cores.



Sábado passado, o Bolívar Medeiros, recebeu na Rádio Web São Chico,o cacique Woie, da tribo Xocleng. Para quem acha que índio é somente assunto de aula de história ou desenho a pintar no dia 19 de abril, saiba que a tribo Xocleng vive no Brasil há muito mais de cem anos. Foi perdendo seu território nas demarcações realizadas pelos governos brasileiros, que nunca se mostraram muito interessados em preservar a diversidade das etnias brasileiras.

Na época dos bugreiros/bandeirantes/caçadores de índios, estes, recebiam dinheiro por par de orelhas nativas entregues ao governo da época. O povo que perdeu terra, direito a caçar, pescar, plantar,  e que quase perdeu a dignidade, se diz sobrevivente e como tais ouviram o chamado dos ancestrais. Os povos indígenas estão requerendo judicialmente as florestas nacionais como suas terras. Florestas estas que estão para entrar em processo de privatização. Em outras palavras: na privatização, uns poucos utilizam o lugar, que seria de Todos se Todos conhecessem seus direitos, para ganhar dinheiro explorando o local. Os Xocleng reinvindicam a terra para preservar a natureza. A briga entre o público e o privado aproveitando o desconhecimento que o povo tem sobre o quê é seu por direito. Vivemos numa época onde reverenciar político é mais interessante do que estudar e conhecer seus direitos e deveres. Somos um povo formado por ignorantes orgulhosos de sua ignorância.

Já são dez anos de luta na justiça, pouco diálogo e cerca de trinta e oito pessoas da tribo vivendo no acostamento de estrada da Flona São Francisco de Paula/RS. O cacique Woie, por várias vezes, perguntou: "Por que não querem nos ouvir? Por que nossa presença causa estranheza?"

As pesquisas históricas confirmam a presença dos indíos no território de São Francisco de Paula. O historiador José Carlos Santos da Fonseca esteve no programa lendo trechos de suas pesquisas, publicadas em livros. O assunto está agendado na Assembléia Legislativa do Estado, ganhou mídia estadual e nacional, repercussão nas redes sociais, mas mesmo assim as trinta e oito pessoas (incluindo 14 crianças entre 0 e 13 anos) estão desassistidas, vivendo das doações de pessoas e poucas entidades que se sensibilizam com a causa. Tudo isto em plena pandemia do Covid 19. 

As perguntas levantadas pelos ouvintes, durante as quase duas de programa, foram muitas. "Por que as demarcações de terras indígenas pararam?" Já são trinta anos sem demarcações. "Por que a cultura de um povo com quase quatro mil anos de existência não é reconhecida?" Existem relatos datados de 1840 de um padre sobre sua convivência com os Xocleng. Existem comprovações da existência de suas casas subterrâneas. Eles querem contar sua história, querem conversar. Querem preservar a natureza, que insistimos em destruir com agrotóxicos, falta de saneamento, ausência de diálogo e muita importância para a diferença de cores de pele. "Só existe um povo neste planeta, o ser humano", disse o cacique.

"Nossa bandeira é a humanidade!" E esta fala é da jornalista aqui que defende a existência da diversidade para a garantia da vida. Sejamos muitas cores, muitas vozes e idiomas. O plural é a soma de singularidades. Nas muitas culturas e religiões que se respeitam e se ajudam. Nos estilos de vida tão diversos que se complementam. Nos abraços, que já não nos são permitidos, mas que voltarão, quando entendermos que precisamos estar mais juntos e unidos pela vida de todos.

Estamos na Rádio Web São Chico

No início dos anos 2000 conheci o Bolívar Medeiros, na Rádio Rota do Sol, em São Francisco de Paula/RS. Eu tinha sido convidada pelo Joel Pereira, dono do Jornal Hora H e da Rádio Rota do Sol, para ser editora e redatora das ediçoes quinzenais do jornal. E o Bolívar tinha um programa na Rádio.

Convite aceito acompanhei o Joel no seu programa ao meio dia, na Rádio. Fiquei quietinha num canto, porque era tudo ao vivo. A boca calada, os ouvidos ligados e a mão anotando tudo. Numa folha do caderno montei uma sugestão de possíveis e futuras entrevistas para o futuro, além de quadros que poderiam ser adicionados ao programa. Na outra folha, de maneira rudimentar, esboçei um jornal com mais interatividade com a comunidade serrana, através de colunas, escutas das lideranças de bairro, espaço para novos artistas, etc e tal. Fiquei por, mais ou menos, um ano nesta rotina entre o jornal e a rádio (depois fui para uma temporada na Suíça). Tudo pertinho em São Chico, trajetos feitos à pé, trocando muitas ideias com o Bolívar, telefonando para contatos de toda a região, virando madrugada em semana de fechamento em jornal, trocando almoço por lanche, revisando textos e mais textos, derrubando pautas e levantando discussões de utilidade pública.

Ser jornalista é colocar a boa informação acima da própria rotina. No jornalismo aprendemos que o coletivo está acima do individual. É preciso ter ética, sim. É preciso ter uma bagagem cultural gigante, sim. Jornalista nunca para de estudar. Já faz um tempo que eu e o Bolívar planejávamos este retorno em um programa de rádio. Em fevereiro deste ano, ele retomou o programa dele na Rádio Web São Chico e me convidou para conversarmos sobre meus projetos culturais na pandemia, sobre a Associação Chico Viale. Duas horas de conversa, mais de duas mil visualizações e veio o convite para o Programa da Viale. Foi aí que eu chamei o Bolívar: "Vamos retomar a parceria? Entrevista, conversa, assuntos do interesse da nossa comunidade. Vamos fazer cidadania e política do bem!" Ele aceitou e no dia 06 de março, sábado, das 12h às 13h, demos a largada neste projeto.

Conversamos sobre as vinte pandemias que assolaram o mundo em dois mil anos, sobre a necessidade urgente de revermos hábitos de higiene e empatia social. Até o sábado (06/03) eram 13 óbitos na nossa cidade, em função do covid (e torcemos para que este número não mude). Lembramos a importância de fortalecer o SUS, Sistema Único de Saúde, que tanto está mobilizado nessa guerra da saúde pública. Precisamos sim de muito mais investimento em saúde pública! Frisamos a necessidade do uso das máscaras de proteção facial. Respondemos mensagens, lembramos de amigos, lamentamos perdas recentes. Nos emocionamos. Porque jornalistas trabalham com fatos e emoções. Mobilizamos as pessoas para se enxergarem mais solidárias e fazerem a diferença nas suas ruas, nos seus bairros e cidades. 

"A melhor maneira de arrancar pessoas do lugar de objeto é devolvendo-lhes a história" (Eliane Brum, jornalista)

Porque a melhor maneira de contar histórias é ouvindo pessoas. Não existe outra maneira de recontar os fatos.


Nosso encontro é nos sábados, das 12h às 13h, na https://radiosaochicoweb.com/






P.S: obrigada a todos que nos prestigiaram e mandaram registros do programa!!!

terça-feira, 2 de março de 2021

Dia de Seu Ricardo

 27 de fevereiro foi aniversário do meu pai, o seu Ricardo. Se vivo estivesse faria 73 anos. Pisciano, este homem era o "absurdo" em forma humana. Não existia o impossível para ele. Não existia "não conseguir fazer". Quando ele tinha uma questão a pensar, ele se isolava ouvindo Julio Iglesias e Manolo Otero e depois de rodar vinte vezes o mesmo lado do LP retornava ao convívio com uma possibilidade de ação. Nem sei por quem puxei.

Este cara me mostrou o poder da música para levantar ânimos, para ressignificar momentos. Tinha música para chorar, para dançar, para lembrar. Era a estratégia de vivência dele. Uso esta até hoje.

Meu pai foi um apaixonado pela vida. Ele amava e festejava a vida, tudo era motivo de comemoração. Até minha primeira menstruação virou festa com comida, bebida e dança "a Paty virou mocinha!"
Meu pai era o campeão de me fazer passar micos. Entre os meus 15 e 18 anos eu tive um amor platônico por um rapaz, cinco ou seis anos mais velho que eu. O rapaz frequentava nossa casa, se dava muito bem com meu pai. Na verdade, eu acho que ele gostava era da companhia do meu pai (todo mundo amava ele!) e não de mim. Bem, no meu aniversário de 18 anos meu pai organizou uma festa no nosso apartamento (que não era grande) na rua São Vicente, em Porto Alegre. Convidou toda a família, mais os amigos da rua. Chamei os mais próximos da faculdade de jornalismo. E é claro que ele convidou o rapaz amor platônico. A trilha sonora era Leandro & Leonardo, Fred Mercury, Madonna, samba enredo e discoteca. Quando começou a tocar "Pensa em Mim, Chora por Mim", da dupla sertaneja, meu pai e suas duas ou três doses de uísques ingeridas iniciaram um discurso, de que o tal rapaz deveria prestar atenção na letra da música, que eu cantaria para ele. Eu quis morrer com 18 anos! O rapaz bebeu um copo de uísque num gole só. Meu pai ria. Na época eu odiava quando ele me fazia passar estes micos. Hoje eu vejo que ele tentava me ajudar a destravar para viver a vida. Porque para ele a vida sempre mereceu ser vivida com intensidade.
Anos depois, já morando em São Francisco de Paula, fui à Porto Alegre fazer uma seleção de mestrado e fiquei no apartamento com ele. Recebida com um Hi-fi (vodka e suco de laranja) e uma cara de poucos amigos perguntei se tinha acontecido algo. Com aquele olhar, que entrava na alma, ele disse que eu estava perdendo tempo, que o negócio era escrever letras de música no estilo "sofrência" e mandar para o cantor Leonardo. "Pai, eu quero tentar o mestrado!" E ele não disse nada. Só me fuzilou com o olhar e repetiu que eu deveria escrever letra de fossa. Foi para cozinha preparar mais um Hi-fi e voltou dizendo: "para o mestrado tu não tem experiência, mas para a fossa tá sobrando" e deu risada. Abaixei a cabeça, mas ri com ele. O cara me conhecia mesmo.
Meu pai foi o Cara da minha vida. Ele me ensinou que quando o coração é grande, os braços crescem também e que assim conseguimos abraçar o mundo. Ele me ensinou que toda pessoa é pessoa, independente de status social, dinheiro, cor de pele. Meu pai foi o cara que me mostrou que a vida é um absurdo, mas que podemos amar este absurdo.
Onde quer que ele esteja, teve festa, sim! De muita comida, bebida e dança! Porque a vida merece ser comemorada ainda que os olhos estejam afogados em lágrimas e o coração em saudade. Feliz Aniversário Pai!!!!





Por que me tornei uma colagista

Em 2001 fiz um auto exílio na Suíça, em função de um casamento. Jornalista no Brasil, lá me descobri uma analfabeta. Além de precisar apre...