As gavetas de nossas casas guardam mistérios. É lá que pares de meias se divorciam. E sequer percebemos. Meias não mentem. Quando se perdem indicam desatenção dos seus donos. Mas onde se perderam? Quais foram os caminhos do afastamento? A máquina de lavar quando centrifuoua? Os tênis da caminhada que evaporaram as meias? A preguiça de colocar a roupa usada no cesto da roupa suja?
Dia a dia vamos perdendo pequenos detalhes. Sejam do nosso vestuário, ou da nossa rotina. Vamos deixando para lá coisas tão miúdas, como meias. E de uma a uma, a miudeira se torna uma montanha gigante de pequenices banais. Tem meia poá, verde, listrada, branca com emoji de coração. Tem meia furada e outras puídas. Tem meia comprida e também curtinhas. Vai arrumar a gaveta ou só deixar prá lá? E vem o outono se aproximando. Com pés frios nos finais de tarde.
E se arrumarmos a gaveta vamos saber o que precisaremos. Mais meias ou organização? A vida não precisa de imensas reformas. A vida precisa de pequenos olhares, todos os dias. Olhares de atenção para o que somos e o quê sentimos. Viver é como a gaveta das meias: às vezes tediosa, às vezes interessante. Depende do olhar que botamos ali.
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