sexta-feira, 31 de julho de 2020

Ano de eleger vereador. A gente sabe o que é isto?

2020, ano de pandemia e eleições municipais. Uma combinação quente, muito quente! Mas mesmo que a temperatura seja alta é preciso colocar a mão no braseiro. E como se faz isto? Iniciando pela reflexão do quê estaremos fazendo neste final de 2020: elegendo vereadores!

E o que é um vereador?

Um vereador municipal, eleito por cidadãos,têm três atuações:

Primeira atuação - Ele faz as leis que podem melhorar a vida da cidade e da população. Também decide, por meio de voto com os demais vereadores (na Câmara de Vereadores) quais projetos de autoria dele, dos seus colegas ou da prefeitura se tornarão leis;

Segunda atuação - Ele fiscaliza a prefeitura (Poder Executivo), para saber se este está cumprindo suas obrigações de maneira adequada e sem descumprir a lei. Também denuncia irregularidades quando estas se apresentam com provas. Uma das formas de fiscalizar é a ferramenta legal chamada “requerimento de informação”,  utilizado para questionamentos e solicitação de documentos.

Terceira atuação – Ele atua como ponte de ligação entre a população e a prefeitura. O vereador precisa atender as necessidades da comunidade. Para isto foi eleito, para atender os interesses do povo e não interesses particulares.

Com esta breve explicação fica mais fácil entender o que precisamos escolher para 2021, quem precisamos escolher para este trabalho de melhoria das nossas cidades: um candidato à vereador que seja comprometido com a comunidade e não um candidato à vereador que faça promessas. Desta forma, um vereador NÃO pode mandar asfaltar uma rua ou construir uma escola (isso é uma obrigação da prefeitura), mas o vereador PODE indicar ao prefeito que determinada obra precisa ser feita e cobrar encaminhamentos, dando assim mais força para que a questão seja resolvida. 

2020 é ano de fazer boas escolhas, tanto para a nossa vida pessoal, como para a nossa vida coletiva, de comunidade, de cidadão fazendo parte de uma cidade. Logo, logo os nomes dos candidatos à vereador e prefeito estarão sendo lançados. E, ainda mais, nós, eleitores, precisaremos nos munir de boa informação e atenção. Esta pandemia do Covid 19 está nos mostrando como é importante sermos mais cidadãos, mais parceiros de nós mesmos. E assim melhorarmos as vidas de todos.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Memórias que valem muitas vidas




Abrir um álbum de fotografias e ver histórias de pessoas que não são da nossa família de sangue, mas são de nossa família humana. Assim sentimos a leitura destas linhas de Conceição. Escritora que faz refletir sem gritar. Que fala sobre separações de verdade. E alerta que não deveríamos ser separados por raças, cores e gêneros. Somos humanos. Esta é a conclusão que almas sensíveis chegam ao final da leitura de "Becos da Memória", da escritora Conceição Evaristo (editora Pallas - 2017).

Percorrer estes becos é se perder em lembranças reencontradas da escritora. Lembranças que percorrem vários momentos da história narrada por inúmeras vozes. Nada começou hoje. Nada começou ontem. A história é uma continuidade. É um sucessivo plantar e colher intenções e consequências.

É livro para ativar o "banzo" no peito e se perguntar onde acertamos e onde erramos. Não morei na favela. Subi o morro algumas vezes com olhar de curiosidade diante daquele mundo tão diferente na aparência, tão semelhante na alma repleta de provações. E o diferente é tão real, é tão vida! E por que não queremos a vida? Por que insistimos em fingir a vida? Vida não é o bem feito. Vida é o feito de bem, de coração. Talvez sem arremate. talvez sem tesouro dourado. Mas que ainda é bem viver. Só leia. Só sinta.

Fica bem, tá?




Ficar bem é quando a gente topa sorrir, mesmo querendo chorar. Ficar bem é espiar pela janela aquele feixe de sol atrás das nuvens escuras, depois de um ou mais dias de chuva.

Um dia a gente recebe uma notícia, que nos faz sentar e ficar em choque por instantes. E aquela paralisia gera  uma angústia, que muda a circulação do sangue, o ritmo da respiração e turva o olhar. Tudo tão estranho. Na nossa alma, que começa a se remexer. E ao mesmo tempo tudo permanece tão corriqueiro, ao nosso redor. A vida segue aquele ritmo banal de vida vivida, de pouca atração escancarada, mas que tanto gostamos.

Na tua cabeça e no teu coração pipocam perguntas, que não sabem aderir a uma resposta. Os passarinhos continuam cantando na árvore do teu quintal. Seria melhor falar sobre esta ansiedade, que não se traduz em palavras? Ou deixar que este silêncio cale, pouco a pouco, o barulho da tua mente? O que é melhor ou pior?

Fica bem, tá?! Não é pergunta. É oferecimento de um cuidado na alma. Um curativo, que se faz naquela ferida meio aberta, meio fechada. "Fica bem, tá?" porque esta prescrição é coisa de amigo, que vê amigo chorar de cantinho. Não é para melhorar rápido. Nem para esquecer. É para tomar chá de camomila quentinho e deixar o tempo passar com aquelas pausas inteligentes, que quase tudo cura.

Fica bem, tá? porque a vida não derruba. Ela te empurra e depois te dá a mão para continuar.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Bandeira Branca


Bandeira Branca, Covid! Eu levanto a bandeira branca da trégua, senhor vírus. Eu peço paz! Já arrumei minha casa quatrocentas vezes, mudei os móveis de lugar outras quinze vezes. Tirei o pó dos 376 livros da minha biblioteca. Li e reli os volumes de literatura francesa e russa. Cataloguei os de literatura brasileira por escolas literárias e meu desafio, agora, será acompanhar as transições entre romantismo, naturalismo, realismo e modernismo. Acordei cedo, dormi cedo. Acordei tarde, dormi tarde. Tive insônia. Usei o sono como fuga. Assisti “lives”, imprimi certificados de aulas on line. Comprei comida de todos os deliverys da cidade. Dançei com todos os CDs de música eletrônica, anos 90, guardados na caixa de cima do armário. Cataloguei todas as fotos do computador por assunto. Escaneei todas as fotos de papel e distribuí para a família. Fiz três receitas de pão. Uma deu certo. Nas outras duas desastre. Levei lanchinho para a minha vizinha. Recebi sobremesa da vizinha. Senti euforia, depressão, preguiça, raiva, paixão. Conheci o tédio, o inconformismo, a vaidade e o descontrole. Me permiti deixar o cabelo crescer livremente. Ganhei máscara de proteção, comprei máscara. Usei máscara. Não fiz máscaras. Limpei as solas dos sapatos. Mandei mensagem de perdão para cinco pessoas. Recebi resposta de três. Fui bloqueada por duas. Vi bandeira vermelha e laranja na minha cidade.

Mas de verdade eu quero bandeira branca. Não é para voltar à vida de antigamente. Nestes quatro meses de isolamento social eu percebi que minha família me faz falta. Minhas amigas me fazem falta. Meus colegas de trabalho me fazem falta. Pessoas e ausências não combinam. Pessoas ocupam espaço. Não só espaço físico, mas espaço no coração. E coração com lacuna é coração com saudade. “Pela saudade que me invade, eu peço paz”.


terça-feira, 14 de julho de 2020

Um trabalho para a vida toda

14 de julho de 1789 - A queda da Bastilha na França! Um marco na época, que simbolizou o início da queda do Antigo Regime. Este evento foi considerado, pelos historiadores, como o início da Revolução Francesa, um período da história marcado por grande agitação social e política. Além disso, esse episódio foi estabelecido como referência pelos historiadores para determinar o início cronológico do período conhecido como Idade Contemporânea.


14 de julho de 2007 - Fundação da Associação Chico Viale, na Região das Hortênsias, uma entidade sem fins lucrativos com um único objetivo: aumentar o número de doadores de sangue nos hemocentros e bancos de sangue.



A escolha da data não foi intencional, mas bem que as energias combinaram. Criar a Associação Chico Viale não era uma urgência, mas um agradecimento. No meio da dor de uma perda, se descobriu a dádiva de poder ajudar a salvar vidas. De lá para cá perdeu-se a conta de quantas bolsas de sangue foram doadas em hemocentros. O único objetivo: continuar a corrente da vida!



Que venham mais 13 anos de coragem e determinação para continuar este trabalho. Que nos próximos 13 anos, o número de doadores de sangue seja três vezes maior que a necessidade.




E um apelo: quem puder doar sangue em Novo Hamburgo/RS, por favor, encaminhe sua doação para LETICIA FERNANDA GROEHS no HEMOVIDA - BANCO DE SANGUE E CENTRO DE HEMATOLOGIA. Qualquer tipagem sanguínea poderá ajudá-la!

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Tamanduá



Patrícia Soares Viale

 (“Ereto sobre as patas traseiras, o tamanduá espera o inimigo e magoa bastante o adversário imprudente que se deixar apanhar. Mas sua índole é antes timorata, foge do homem, porém, tão lentamente, que a passo se acompanha o seu galope”)


Um tamanduá olha-me. Está triste. Seu olhar pede ajuda. Parece dizer que de nada adianta viver se a solidão continuar rondando sua existência. Fico perdida. Entre o agir e o permitir. Permitir que, de tão só, o bichinho venha a morrer. O que posso fazer por seu isolamento? O que posso fazer pela ausência de brilho em seu olhar? Nada posso, pois sou o próprio tamanduá. Sou uma mulher ausente de sonhos e vida. Sou um ser que busca encher-se de algo, mas nada sei. Procuro por um abraço.
Calar-se como gente boa e agir como gente do bem. Nada mais. Recordo uma confissão que fiz ao padre, quando vivi minha primeira paixão platônica. Meu homem era alto e muito forte. Dono de uma voz marcante. Um homem com confiança em seu próprio destino. Com um desejo explícito de amar suas emoções e transforma-las em realidade. Apaixonei-me por tal monstro sedutor. Lembro de suas feições. De seus gestos. Lembro-me do seu jeito de beber leite e depois sorrir inocentemente, como um bebê. Como fui feliz ao amar aquele homem, que nunca, sequer, soube de minha existência. Mesmo sendo ignorada, jamais pensei em desistir da paixão. Talvez fosse esse o segredo e o grande prazer. Acariciar-me escondida pensando nele. Escrever cartas de amor sem nunca enviar. Viver à margem de tudo e de todos. Como uma mera espectadora. Fui um acidente em minha própria vida. E permiti-me esse deslize. Bela confissão. Ao padre. À alma feminina. Fui feliz em amar e esconder-me. Descobri ter segredos e sentir vergonha por esses. Mas senti e vivi. A cada passo daquele homem, eu estava lá. Registrando com meus momentos. Acompanhando com meu silêncio. Totalmente muda e calada. Como manda a boa etiqueta da amante perfeita.
Assim meu homem teve uma amante quente. Carinhosa. Meiga. Erótica, desprovida de pudores. Acordava sozinha, mas ouvindo sua música favorita. Tomando café da manhã à dois. E a louça já não me incomodava. Para o almoço, ele ligava e dizia o quê queria comer. Comida caseira. Grelhados. Apenas saladas. Ou então sanduíche e sexo. Ele decidia e eu cumpria. Tudo muito simples para minha crença. E assim fomos indo. Um ano. Um pouco mais. Meu homem era o suficiente para ficar de bem com a vida. Quando chegava a hora do amor, amor fazíamos. Hora de conversar, palavras eram trocadas. Momentos de cumplicidade e desconfiança. Sem constrangimento. Sem censura. Sem regras.
E meu homem sequer notou tanto romantismo. Tanta dedicação. Enfrentei todos os pontos de interrogação. Enfrentar já bastava. O resto seria apenas complemento para a letra de uma música qualquer. Optei por ter meu homem assim. Não o tive, como teve Carolina, Márcia, Rosa ou Anelise. Mas ele foi meu e de uma maneira bonita. Foi como um texto bem escrito. Programado, acompanhado de detalhes, poucas reticências. Fui convincente quando muitas mulheres são apenas emotivas. Sem maiores expectativas ou pensamentos em melhores resultados. Assim fica mais fácil seduzir e até mesmo matar.
Mas na manhã passada acordei assustada. Um pesadelo era o motivo. Corri ao banheiro. Lavei o rosto. Olhei-me no espelho. Enxuguei-o e voltei para a cama. E o voltar foi doloroso. O pesadelo parecia estar vivo. A cama desarrumada. E vazia. Eu estava sozinha. Durante meses estive sozinha e não havia percebido. Durante todo esse tempo os abraços eram falsos e os braços eram meus. No travesseiro, ao lado, nem um fio de cabelo. Nenhum cheiro. Nada. Nada mais que um pouco de mim. E por isso parecia menos.
No pesadelo eu estava dentro de uma roda. As pessoas, que formavam a roda, giravam e riam. Esses monstros zombavam da minha cara. Uma mulher gritava e chamava-me de tonta, burra. Outra corria até uma porta e olhava pela fechadura. Voltava o rosto com ar malicioso e passava a língua nos lábios. Todos me empurravam e riam. Batiam os pés no chão. Fugi da roda e fui até a porta. Olhei pela fechadura. Vi meu homem nos braços de uma mulher. Nus. Tocando-se. Ele amava-a como nunca fez comigo. E no pesadelo eu chorei. Chorei tanto que as lágrimas criaram um lago. E se eu não tivesse acordado, certamente morreria afogada.
Liguei para meu trabalho e avisei que não iria. Dor de dente. Que outra dor eu poderia falar? Peguei dinheiro e fui à livraria. Comprei livros de bichos, revistas femininas, tesoura, cola e cartolina. Passei no supermercado. Comprei álcool e fósforo. Voltei para casa. Recortei homens bonitos e mulheres muito lindas. Nos livros de bichinhos recortei todos os tamanduás que encontrei. Cinco ao todo. Colei todas as figuras na cartolina. Um tamanduá. Um homem. Uma mulher. Segui a seqüência até as gravuras terminarem. Procurei uma tigela na cozinha. Tigela de barro. Despejei álcool e risquei o fósforo. Fogo. De frente para o cartaz prometi não ser mais minha própria ausência. Amaldiçoei aquele e todos os homens fantasiosos. Julguei meus medos. E perdoei o tamanduá por insistir naquele abraço. Eu queria. Eu desejava um abraço, mas uma recaída poderia ser fatal. Joguei todos na fogueira e dei por encerrada a caça às bruxas.             
   

Por que me tornei uma colagista

Em 2001 fiz um auto exílio na Suíça, em função de um casamento. Jornalista no Brasil, lá me descobri uma analfabeta. Além de precisar apre...