sábado, 10 de outubro de 2020

O livro ao vivo!

 Eu e o Fernando Gomes já temos um bom caminho trilhado, juntos, na área da produção cultural. Quando o assunto é texto e literatura nossos olhos brilham e a gente diz, um para o outro: “Vamos fazer!!!”



Em março, com o isolamento social decretado, ele me procurou: “Paty, e a Pizza Literária?” Respondi que pararia o evento.


Tempos depois ele veio buscar pizzas na Boutique com uma proposta: “Vamos fazer o tão sonhado encontro entre o Clube do Livro de Canela e a Pizza Literária! Tem edital FAC DIGITAL RS acontecendo!” E os meus olhos brilharam! 🤩 E quem me conhece sabe: olho da Paty brilhando é mergulho no projeto!






 




De maio até agora “corremos virtualmente” com documentos, textos para projeto e contatos literários. Nesta caminhada descobrimos que estamos ficando craques na arte da produção. Estamos descobrindo que passamos da fase de amadores já faz um tempinho. E o melhor: temos muitos parceiros no mundo literário! ❤📚







Então! Teremos “Lives do Clube do Livro de Canela + Pizza Literária: o livro ao vivo!” E o time é bom demais! Confere:


22 de outubro (quinta), das 19h às 20h15min “O papel da literatura em tempos de medo e esperança “ com Luiz Ruffato, J. A. Nicotti, Eduardo Krause e Ana Santos.


27 de outubro (terça), das 19 às 20h15min “Preconceito e diversidade na literatura” com Natália Borges Polesso, Marcelo Santos, Renata Wolff e Rodrigo Rosp. 


Coloca na agenda, porque estes dois encontros serão inesquecíveis! ❤📚🍕


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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

O Eu de uma mirtácea


 

    

           por Patrícia Soares Viale

             Durante meu crescimento invejei outras árvores, outras espécies. Chegava a chuva, aquentava-me o sol e eu invejava tipos como as lauráceas, tão cheirosas e nobres. Perguntava-me o motivo daquela hierarquia toda. Umas aqui, outras ali. Por que algumas chegavam antes das outras? Reis, majestades e a plebe. Sempre juntos, apesar das distinções... certo dia um biólogo chegou por aqui e puxou-me pelas folhas. Arrancou algumas. Cheirava-as. Examinava-as de perto, de longe, de trás e de frente. “Eis uma mirtácea!”, gritava para tantas outras pessoas que o acompanhavam. Biólogo vaidoso, teria me descoberto? Assim parecia pelo seu comportamento. Mas o biólogo empolgado era um recém-formado, daqueles que saem da faculdade entusiasmados em descobrir novas espécies dentro de tantas famílias. Claro que ele sabia que nós, as digníssimas mirtáceas, somos a mais rica família em frutos tropicais. São minhas parentes a goiabeira, o araça, o guabijú. Também são primos a jabuticabeira, a uvaia, a guabirobeira e também e a cerejeira. Se ainda não me apresentei, chamo-me pitanga. De folhas em tons verdes suaves e leves nuances avermelhadas. Folhas tão doces no cheiro, no sabor e na aparência. Sou uma planta um tanto meiga, nada tenho de agressiva em minha aparência... mas a dor me impede de continuar esta narração. O biólogo incoveniente incentivou seus seguidores a me provarem, a me desfrutarem. “Sintam a textura da folha. Esfreguem a folha e provem do cheiro. Encostem no caule”. Alguém já puxou seus cabelos repetidamente, sem intervalo algum? E se fosse nele? Nos seus cabelos? Beliscões na  sua pele? Por pouco não chorei na frente daqueles vândalos, que gritavam uns aos outros “eis uma mirtácea”.

            Confesso que sou um tanto tímida. Preciso de proteção das árvores mais seguras. Não sou como as vassouras, pioneiras, audazes e guerreiras. Elas chegam primeiro. Conquistam território. Deixam tudo ao redor um pouco mais seguro. E assim então chegamos nós. As mirtáceas. Não saberei agredir estes que me invadem no meu traqüilo ambiente. Não sou de guerras. Sou de compartilhar com tantos outros o melhor da floresta Aprendi a ser solidária. Deve ser instinto de árvore. Dizem que somos o maior número de espécies na tão ameaçada Mata Atlântica. Não sei. Pouco entendo sobre questões humanas. Eles parecem confusos. Falam muito, gesticulam muito, se movimentam ainda mais. Mas vivem o mínimo. O que sei é que realmente sou uma mirtácea. Que preciso do sol e da chuva. Admirada por uns e desprezada por outros. Dizem que sou um tipo comum. Que mal chego aos pés de uma angustifolia. Concordo plenamente. Não me incomoda ser mais baixa, ter que florescer todo ano e oferecer meus frutos aos animais, inclusive o homem. Não me importo com as comparações. Estar viva até o presente me consola. Num momento de tantos conflitos e mortes por causa de territórios e riquezas foram-se as araucárias e os ipês, árvores tão distintas. Ficaram as mirtáceas, tipinho normal, aquelas que foram educadas em comunidade. Nunca se sobressaíram individualmente. E depois que o último rapaz arrancou a centésima folha, de meus galhos, posso suspirar e dizer: - Ainda bem que sou uma destas.

domingo, 6 de setembro de 2020

De igual para igual


 Patrícia Soares Viale - 15 de abril de 2002 - escrito durante temporada na Suíça 


casa dos meus avós maternos, Fábio e Neusa, na Barragem do Salto

Olhei pelo furo na parede. Parede de madeira. Casarão com cara caiada. Tal como faço nas noites de sexta feira. Pelo furo nada vejo. Nem vó, nem vô, nem neta ou cachorro. Também poderia ver um homem, um poeta, um assassino. Mas no nada fico, assim como essas armaduras amadeiradas isolam-nos daquele mundo. Não canso de procurar por algo nesse espaço tão limitado. Ouço minha vó chamar e dizer que o arroz doce ainda está quente. Quentinho com canela. Tão suave e perfumado. Bem como a hora do banho: sabonete, xampu, creme rinse, perfume e talco. Quero não! Está quente! E minha avó assopra a pequena quantidade na colher. Abro a boca e pronto. Tão feliz quanto a felicidade do encontro. O poeta recitou versos. Não de amor, mas de eternidade. E feliz acreditei que a vida seria um eterno reencontro. Quer mais? Sacudi a cabeça num violento “não” e com os olhos fechados mais uma vez balançei. Agora para cima e para baixo. Minha vó ria manso e assoprava uma nova porção. Pequenina como minha boca. Delicada como convinha para o momento. E na impaciência daquele instante eu fingia ter a boca cheia. Tapava os olhos. Procurava por coisas que pudessem existir somente na minha imaginação. E pacientemente minha avó esperava. O riso sereno. A voz sem espera. A dedicação escolhida. Abraçava aquele corpo cansado. Engolia tudo e ria com os dentes. Com corpo e com o pular. Saltava pela cozinha e corria para o pátio. Já com a boca fria. Com o riso solto. E quando paravam as pernas, olhava com ar de averiguação. Lá estava ela na janela. O mesmo sorriso. A colher ao lado do pote. Pronta para uma nova porção.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

A literatura em tempos de encontros on line

Quem disse que a nova realidade de encontros virtuais faria mal para a literatura? São tantos encontros e tão disponíveis, que só não participa quem não quer. Segue a programação da Fundação Cultural de Canela, totalmente on line! CURSO LESKOV - início 26/08 A Fundação Cultural de Canela e o Professor J. A. Nicotti estão lançando o terceiro curso do Ciclo de Literatura Russa. Em 4 encontros virtuais, serão lidos e analisados 2 livros de NIKOLAI LESKOV: “Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk” e “A Fraude e outras histórias”, ambos pela Editora 34, apoiadora do curso. As aulas acontecem nas quartas-feiras, de 26/08 a 16/09, das 19h às 21h, e a plataforma utilizada é o Google Meet. Inscrições: Apenas o curso: R$220 Curso + 2 livros: R$294 Inclui certificado (carga horária de 10 horas/aula) e material exclusivo (ambos digitais, em PDF). Realização: Fundação Cultural de Canela Apoio: Editora 34, Tresdê Impressões e Órbita Literária Maiores informações: 54 99192.6187 / fernando@fccanela.com.br / facebook.com/fundacaoculturaldecanela - Clube do Livro de Canela convida para debates: 27/08 e 24/09 Já estão definidas as duas próximas leituras do Clube do Livro de Canela, que tem realizado seus encontros virtualmente, sempre na última quinta-feira do mês. Em agosto, a discussão será sobre Memória de Minhas Putas Tristes, o último romance do nobel Gabriel García Márquez, publicado em 2004. Para setembro, a obra escolhida foi A cada um o seu, do italiano Leonardo Sciascia. A participação nos encontros online é gratuita, mas é preciso pré-inscrição através do email fernando@fccanela.com.br. Os debates ocorrem nas datas 27/08 e 24/09, sempre das 19h às 21h, no Google Meet. Apoio: Livraria Mania de Ler / AJR e FCC -- Circuito Santa Sede - início em 11/09 O Santa Sede – crônicas de botequim lança sua segunda turma em Canela: a oficina literária Circuito Santa Sede. Pela primeira vez em módulo virtual, esta oficina é voltada a quem deseja iniciar, manter ou retomar uma rotina de escrita – seja para alimentar redes sociais, formar acervo para uma futura publicação ou mesmo como terapia durante o isolamento social. São apenas 9 vagas na turma, que tem encontros semanais pelo Google Meet, sempre às sextas-feiras, das 18h às 20h. As inscrições podem ser feitas até 11/09, dia da primeira aula, através do fone/whats 54 99192.6187 ou email fernando@fccanela.com.br. A mensalidade é de R$180 por pessoa. Apoio: Empório Canela e Fundação Cultural de Canela -- O Gato na Literatura - início em 16/11 O gato é ou não é o bichano mais afeito à literatura que existe? Essa opinião é discutível, claro. Dá um bom debate. De preferência com um chá ou café quentinho ao lado e, de preferência, um peludo ronronando no colo :) Os gatos são amigos dos leitores e escritores, não há dúvidas. Foram muitos os autores que registraram nos livros suas histórias. entre eles Edgar Alan Poe e Josué Guimarães; na poesia de T.S. Eliot, Mario Quintana, Vinicius de Morais; em Patricia HighSmith, Natsume Soseki e Hiro Arikawa. Neste curso, ministrado pela professora Bel Porazza, vamos refletir sobre o tema (os gatos!) em diversas obras literárias identificando como os respectivos autores inserem o animal em seus contos e romances. Serão analisadas obras no universo das fábulas de Esopo e de La Fontaine, além de todos os grandes nomes citados acima. Também, elaboraremos, em formato oficinal, um pequeno roteiro para um conto onde o gato seja o protagonista. O curso terá 3 encontros, realizado pelo Zoom. Dias 16, 23 e 30 de novembro de 2020 (segundas-feiras), das 19h às 20h30. Investimento: R$210,00 Promoção*: trazendo um(a) colega para o curso, ambos pagam R$180,00 *promoção válida até 05/11. Consulte o desconto progressivo ao trazer mais colegas. Que tal? Vai deixar de ler e escrever por causa do covid 19? Maiores informações com: Fernando C. Gomes Fundação Cultural de Canela / Vice-presidente 54 99192.6187 / www.fccanela.com.br

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Máscara que protege e distribui solidariedade

Ana Maria é íntima do ambiente das costuras. Em seus pensamentos ela jamais imaginaria que o seu ateliê de costura, situado em São Francisco de Paula, iria virar uma linha de produção de máscaras de tecido. Ana Maria Naviliat (o sorriso do lado direito desta primeira foto) é costureira desde os sete anos de idade. Ela ajudava a mãe nas costuras, principalmente  nos alinhavos. O ambiente de tecidos, tesouras, agulhas e linhas sempre fez parte da sua vida. Nesta linha viajou pelo Brasil e teve confecções. Morou em Minas Gerais, Santa Catarina. Veio de muda para São Chico e montou seu ateliê numa cabana de madeira linda. Plantou árvores no pátio e aqui produz beleza com tecido.

Ana (blusa cinza), a irmã Marilena  (blusa verde) e o sobrinho Diego


Ingressou em 2019 no grupo das artesãs de São Chico. Aprendeu várias técnicas artísticas, mas a paixão continua sendo a costura. Principalmente a costura de bolsas. Quando a pandemia iniciou em março, uma amiga, moradora em Viamão, ligou para ela e perguntou se ela poderia fazer máscaras de pano. Teria que usar máscara o dia inteiro. "O senso comum diz que usar uma máscara protege você contra quaisquer partículas ou patógenos transportados pelo ar".  Ana sabia que fazer aquelas costuras era proteção. Fez um lote de máscaras e mandou para a amiga.  



A irmã Marilena veio para ajudá-la no início do isolamento social, em março. Ela anotava o número de máscaras doadas. Passaram a vender algumas para poder comprar o material (tecido, linha e elástico). Assim poderiam continuar as doações. Até onde conseguiram contar chegaram ao número de 900 máscaras. Quase 600 unidades, desta produção, foram para doação.


Esta nova rotina no ateliê da Ana deixa ela muito feliz. Faz o que gosta e ainda ajuda quem precisa. "Poder ajudar no meio desta pandemia é gratificante", completa a costureira de proteção. Ainda neste momento tão incomum ganhou de presente um neto.





Ana nunca usou máscara em bailes de carnaval. E sair à rua usando máscaras também não estava nos seus planos de vida. Mas, todos os dias, ela se coloca em frente à máquina de costura e planeja novos modelos. Mais confortáveis, mais bonitos.  "Máscara é segurança nos dias atuais. Como não me dedicar? É a minha maneira de ajudar a proteger as pessoas", finaliza a costureira Ana.




terça-feira, 11 de agosto de 2020

A Dama do Cachorrinho

 A literatura russa encanta. Os russos são surpreendentes. Um povo que tem um inverno congelante e mesmo assim produz e vive prá valer, é um povo de imenso valor. A literatura russa não é uma literatura de facilidades, mas também não é complicada. É literatura de humanidade, sem caminhos fáceis. É preciso querer mergulhar no ser humano para entender a literatura russa.

Recentemente a Fundação Cultura de Canela, juntamente com o Professor Nicotti, disponibilizou o curso on line sobre os contos do escritor Tchekhov.  A proposta era ler os 36 contos do exemplar "A Dama do Cachorrinho e outros contos", publicado pela Editora 34, com tradução de Boris Schnaiderman.

Tchekhov nos mostra, através de seus textos, que uma vida é feita para viver no momento. Apenas isto. E nada mais. O escritor é craque supremo em histórias curtas. Com precisão extrai o que existe de mais humano num fato, num momento. Um recorte de um fato. A vida não é idealizada. As histórias são comuns, deixam a alma à mostra. Choramos com o pai de "Angústia". Nos apaixonamos com "A Dama do Cachorrinho". Até sorrimos com o início de "Bilhete Premiado", mas em seguida retomamos o ritmo da vida sem artifícios.

Vale ler e degustar cada um dos contos. Uma visão mais poética  sobre o dia a dia, que muito insistem em chamar de trivial. A vida para este escritor não é banal. É carregada de sentimentos contraditórios e misturados, de escolhas que fazemos a cada segundo vivido.

Em tempo: o professor Nicotti irá oferecer um novo curso on line. Desta vez será sobre o escritor Leskov, com a leitura dos livros "A fraude e Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk". Maiores informações com Fernando Gomes.


sexta-feira, 31 de julho de 2020

Ano de eleger vereador. A gente sabe o que é isto?

2020, ano de pandemia e eleições municipais. Uma combinação quente, muito quente! Mas mesmo que a temperatura seja alta é preciso colocar a mão no braseiro. E como se faz isto? Iniciando pela reflexão do quê estaremos fazendo neste final de 2020: elegendo vereadores!

E o que é um vereador?

Um vereador municipal, eleito por cidadãos,têm três atuações:

Primeira atuação - Ele faz as leis que podem melhorar a vida da cidade e da população. Também decide, por meio de voto com os demais vereadores (na Câmara de Vereadores) quais projetos de autoria dele, dos seus colegas ou da prefeitura se tornarão leis;

Segunda atuação - Ele fiscaliza a prefeitura (Poder Executivo), para saber se este está cumprindo suas obrigações de maneira adequada e sem descumprir a lei. Também denuncia irregularidades quando estas se apresentam com provas. Uma das formas de fiscalizar é a ferramenta legal chamada “requerimento de informação”,  utilizado para questionamentos e solicitação de documentos.

Terceira atuação – Ele atua como ponte de ligação entre a população e a prefeitura. O vereador precisa atender as necessidades da comunidade. Para isto foi eleito, para atender os interesses do povo e não interesses particulares.

Com esta breve explicação fica mais fácil entender o que precisamos escolher para 2021, quem precisamos escolher para este trabalho de melhoria das nossas cidades: um candidato à vereador que seja comprometido com a comunidade e não um candidato à vereador que faça promessas. Desta forma, um vereador NÃO pode mandar asfaltar uma rua ou construir uma escola (isso é uma obrigação da prefeitura), mas o vereador PODE indicar ao prefeito que determinada obra precisa ser feita e cobrar encaminhamentos, dando assim mais força para que a questão seja resolvida. 

2020 é ano de fazer boas escolhas, tanto para a nossa vida pessoal, como para a nossa vida coletiva, de comunidade, de cidadão fazendo parte de uma cidade. Logo, logo os nomes dos candidatos à vereador e prefeito estarão sendo lançados. E, ainda mais, nós, eleitores, precisaremos nos munir de boa informação e atenção. Esta pandemia do Covid 19 está nos mostrando como é importante sermos mais cidadãos, mais parceiros de nós mesmos. E assim melhorarmos as vidas de todos.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Memórias que valem muitas vidas




Abrir um álbum de fotografias e ver histórias de pessoas que não são da nossa família de sangue, mas são de nossa família humana. Assim sentimos a leitura destas linhas de Conceição. Escritora que faz refletir sem gritar. Que fala sobre separações de verdade. E alerta que não deveríamos ser separados por raças, cores e gêneros. Somos humanos. Esta é a conclusão que almas sensíveis chegam ao final da leitura de "Becos da Memória", da escritora Conceição Evaristo (editora Pallas - 2017).

Percorrer estes becos é se perder em lembranças reencontradas da escritora. Lembranças que percorrem vários momentos da história narrada por inúmeras vozes. Nada começou hoje. Nada começou ontem. A história é uma continuidade. É um sucessivo plantar e colher intenções e consequências.

É livro para ativar o "banzo" no peito e se perguntar onde acertamos e onde erramos. Não morei na favela. Subi o morro algumas vezes com olhar de curiosidade diante daquele mundo tão diferente na aparência, tão semelhante na alma repleta de provações. E o diferente é tão real, é tão vida! E por que não queremos a vida? Por que insistimos em fingir a vida? Vida não é o bem feito. Vida é o feito de bem, de coração. Talvez sem arremate. talvez sem tesouro dourado. Mas que ainda é bem viver. Só leia. Só sinta.

Fica bem, tá?




Ficar bem é quando a gente topa sorrir, mesmo querendo chorar. Ficar bem é espiar pela janela aquele feixe de sol atrás das nuvens escuras, depois de um ou mais dias de chuva.

Um dia a gente recebe uma notícia, que nos faz sentar e ficar em choque por instantes. E aquela paralisia gera  uma angústia, que muda a circulação do sangue, o ritmo da respiração e turva o olhar. Tudo tão estranho. Na nossa alma, que começa a se remexer. E ao mesmo tempo tudo permanece tão corriqueiro, ao nosso redor. A vida segue aquele ritmo banal de vida vivida, de pouca atração escancarada, mas que tanto gostamos.

Na tua cabeça e no teu coração pipocam perguntas, que não sabem aderir a uma resposta. Os passarinhos continuam cantando na árvore do teu quintal. Seria melhor falar sobre esta ansiedade, que não se traduz em palavras? Ou deixar que este silêncio cale, pouco a pouco, o barulho da tua mente? O que é melhor ou pior?

Fica bem, tá?! Não é pergunta. É oferecimento de um cuidado na alma. Um curativo, que se faz naquela ferida meio aberta, meio fechada. "Fica bem, tá?" porque esta prescrição é coisa de amigo, que vê amigo chorar de cantinho. Não é para melhorar rápido. Nem para esquecer. É para tomar chá de camomila quentinho e deixar o tempo passar com aquelas pausas inteligentes, que quase tudo cura.

Fica bem, tá? porque a vida não derruba. Ela te empurra e depois te dá a mão para continuar.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Bandeira Branca


Bandeira Branca, Covid! Eu levanto a bandeira branca da trégua, senhor vírus. Eu peço paz! Já arrumei minha casa quatrocentas vezes, mudei os móveis de lugar outras quinze vezes. Tirei o pó dos 376 livros da minha biblioteca. Li e reli os volumes de literatura francesa e russa. Cataloguei os de literatura brasileira por escolas literárias e meu desafio, agora, será acompanhar as transições entre romantismo, naturalismo, realismo e modernismo. Acordei cedo, dormi cedo. Acordei tarde, dormi tarde. Tive insônia. Usei o sono como fuga. Assisti “lives”, imprimi certificados de aulas on line. Comprei comida de todos os deliverys da cidade. Dançei com todos os CDs de música eletrônica, anos 90, guardados na caixa de cima do armário. Cataloguei todas as fotos do computador por assunto. Escaneei todas as fotos de papel e distribuí para a família. Fiz três receitas de pão. Uma deu certo. Nas outras duas desastre. Levei lanchinho para a minha vizinha. Recebi sobremesa da vizinha. Senti euforia, depressão, preguiça, raiva, paixão. Conheci o tédio, o inconformismo, a vaidade e o descontrole. Me permiti deixar o cabelo crescer livremente. Ganhei máscara de proteção, comprei máscara. Usei máscara. Não fiz máscaras. Limpei as solas dos sapatos. Mandei mensagem de perdão para cinco pessoas. Recebi resposta de três. Fui bloqueada por duas. Vi bandeira vermelha e laranja na minha cidade.

Mas de verdade eu quero bandeira branca. Não é para voltar à vida de antigamente. Nestes quatro meses de isolamento social eu percebi que minha família me faz falta. Minhas amigas me fazem falta. Meus colegas de trabalho me fazem falta. Pessoas e ausências não combinam. Pessoas ocupam espaço. Não só espaço físico, mas espaço no coração. E coração com lacuna é coração com saudade. “Pela saudade que me invade, eu peço paz”.


terça-feira, 14 de julho de 2020

Um trabalho para a vida toda

14 de julho de 1789 - A queda da Bastilha na França! Um marco na época, que simbolizou o início da queda do Antigo Regime. Este evento foi considerado, pelos historiadores, como o início da Revolução Francesa, um período da história marcado por grande agitação social e política. Além disso, esse episódio foi estabelecido como referência pelos historiadores para determinar o início cronológico do período conhecido como Idade Contemporânea.


14 de julho de 2007 - Fundação da Associação Chico Viale, na Região das Hortênsias, uma entidade sem fins lucrativos com um único objetivo: aumentar o número de doadores de sangue nos hemocentros e bancos de sangue.



A escolha da data não foi intencional, mas bem que as energias combinaram. Criar a Associação Chico Viale não era uma urgência, mas um agradecimento. No meio da dor de uma perda, se descobriu a dádiva de poder ajudar a salvar vidas. De lá para cá perdeu-se a conta de quantas bolsas de sangue foram doadas em hemocentros. O único objetivo: continuar a corrente da vida!



Que venham mais 13 anos de coragem e determinação para continuar este trabalho. Que nos próximos 13 anos, o número de doadores de sangue seja três vezes maior que a necessidade.




E um apelo: quem puder doar sangue em Novo Hamburgo/RS, por favor, encaminhe sua doação para LETICIA FERNANDA GROEHS no HEMOVIDA - BANCO DE SANGUE E CENTRO DE HEMATOLOGIA. Qualquer tipagem sanguínea poderá ajudá-la!

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Tamanduá



Patrícia Soares Viale

 (“Ereto sobre as patas traseiras, o tamanduá espera o inimigo e magoa bastante o adversário imprudente que se deixar apanhar. Mas sua índole é antes timorata, foge do homem, porém, tão lentamente, que a passo se acompanha o seu galope”)


Um tamanduá olha-me. Está triste. Seu olhar pede ajuda. Parece dizer que de nada adianta viver se a solidão continuar rondando sua existência. Fico perdida. Entre o agir e o permitir. Permitir que, de tão só, o bichinho venha a morrer. O que posso fazer por seu isolamento? O que posso fazer pela ausência de brilho em seu olhar? Nada posso, pois sou o próprio tamanduá. Sou uma mulher ausente de sonhos e vida. Sou um ser que busca encher-se de algo, mas nada sei. Procuro por um abraço.
Calar-se como gente boa e agir como gente do bem. Nada mais. Recordo uma confissão que fiz ao padre, quando vivi minha primeira paixão platônica. Meu homem era alto e muito forte. Dono de uma voz marcante. Um homem com confiança em seu próprio destino. Com um desejo explícito de amar suas emoções e transforma-las em realidade. Apaixonei-me por tal monstro sedutor. Lembro de suas feições. De seus gestos. Lembro-me do seu jeito de beber leite e depois sorrir inocentemente, como um bebê. Como fui feliz ao amar aquele homem, que nunca, sequer, soube de minha existência. Mesmo sendo ignorada, jamais pensei em desistir da paixão. Talvez fosse esse o segredo e o grande prazer. Acariciar-me escondida pensando nele. Escrever cartas de amor sem nunca enviar. Viver à margem de tudo e de todos. Como uma mera espectadora. Fui um acidente em minha própria vida. E permiti-me esse deslize. Bela confissão. Ao padre. À alma feminina. Fui feliz em amar e esconder-me. Descobri ter segredos e sentir vergonha por esses. Mas senti e vivi. A cada passo daquele homem, eu estava lá. Registrando com meus momentos. Acompanhando com meu silêncio. Totalmente muda e calada. Como manda a boa etiqueta da amante perfeita.
Assim meu homem teve uma amante quente. Carinhosa. Meiga. Erótica, desprovida de pudores. Acordava sozinha, mas ouvindo sua música favorita. Tomando café da manhã à dois. E a louça já não me incomodava. Para o almoço, ele ligava e dizia o quê queria comer. Comida caseira. Grelhados. Apenas saladas. Ou então sanduíche e sexo. Ele decidia e eu cumpria. Tudo muito simples para minha crença. E assim fomos indo. Um ano. Um pouco mais. Meu homem era o suficiente para ficar de bem com a vida. Quando chegava a hora do amor, amor fazíamos. Hora de conversar, palavras eram trocadas. Momentos de cumplicidade e desconfiança. Sem constrangimento. Sem censura. Sem regras.
E meu homem sequer notou tanto romantismo. Tanta dedicação. Enfrentei todos os pontos de interrogação. Enfrentar já bastava. O resto seria apenas complemento para a letra de uma música qualquer. Optei por ter meu homem assim. Não o tive, como teve Carolina, Márcia, Rosa ou Anelise. Mas ele foi meu e de uma maneira bonita. Foi como um texto bem escrito. Programado, acompanhado de detalhes, poucas reticências. Fui convincente quando muitas mulheres são apenas emotivas. Sem maiores expectativas ou pensamentos em melhores resultados. Assim fica mais fácil seduzir e até mesmo matar.
Mas na manhã passada acordei assustada. Um pesadelo era o motivo. Corri ao banheiro. Lavei o rosto. Olhei-me no espelho. Enxuguei-o e voltei para a cama. E o voltar foi doloroso. O pesadelo parecia estar vivo. A cama desarrumada. E vazia. Eu estava sozinha. Durante meses estive sozinha e não havia percebido. Durante todo esse tempo os abraços eram falsos e os braços eram meus. No travesseiro, ao lado, nem um fio de cabelo. Nenhum cheiro. Nada. Nada mais que um pouco de mim. E por isso parecia menos.
No pesadelo eu estava dentro de uma roda. As pessoas, que formavam a roda, giravam e riam. Esses monstros zombavam da minha cara. Uma mulher gritava e chamava-me de tonta, burra. Outra corria até uma porta e olhava pela fechadura. Voltava o rosto com ar malicioso e passava a língua nos lábios. Todos me empurravam e riam. Batiam os pés no chão. Fugi da roda e fui até a porta. Olhei pela fechadura. Vi meu homem nos braços de uma mulher. Nus. Tocando-se. Ele amava-a como nunca fez comigo. E no pesadelo eu chorei. Chorei tanto que as lágrimas criaram um lago. E se eu não tivesse acordado, certamente morreria afogada.
Liguei para meu trabalho e avisei que não iria. Dor de dente. Que outra dor eu poderia falar? Peguei dinheiro e fui à livraria. Comprei livros de bichos, revistas femininas, tesoura, cola e cartolina. Passei no supermercado. Comprei álcool e fósforo. Voltei para casa. Recortei homens bonitos e mulheres muito lindas. Nos livros de bichinhos recortei todos os tamanduás que encontrei. Cinco ao todo. Colei todas as figuras na cartolina. Um tamanduá. Um homem. Uma mulher. Segui a seqüência até as gravuras terminarem. Procurei uma tigela na cozinha. Tigela de barro. Despejei álcool e risquei o fósforo. Fogo. De frente para o cartaz prometi não ser mais minha própria ausência. Amaldiçoei aquele e todos os homens fantasiosos. Julguei meus medos. E perdoei o tamanduá por insistir naquele abraço. Eu queria. Eu desejava um abraço, mas uma recaída poderia ser fatal. Joguei todos na fogueira e dei por encerrada a caça às bruxas.             
   

sábado, 6 de junho de 2020

Carta para Ieda Reis



Negra, a minha mãe de coração, tenho pensado tanto em ti nos últimos dias. Tenho pensado em tudo que me mostrou, falou, nestes anos. 

Minha musa maior: Ieda Reis

Nossas conversas na cozinha, eu sentada num banco, pedindo para que, me ensinasse a cozinhar, e tu rindo, perguntando o que eu queria comer. Não queria que eu fizesse sujeira, que eu mexesse nas tuas panelas. Sempre fui tua fã. Quantas conversas tivemos nós duas entre os intervalos da vida. Tão preciosas para mim.

Eu e Cintia (minha irmã) com Negra


Quantas despedidas e reencontros também. Quantas vezes peguei nas tuas mãos e te abracei perguntando, porque Deus me mandou como tua filha de coração, como tu sempre dizia para todos. Que orgulho meu ser tua filha de coração! Nestes dias de muita intolerância e desrespeito, pelas pessoas negras, fico me perguntando o motivo de pessoas quererem enxergar pela cor e não pelo amor. Durante a vida aprendemos algo, com cada pessoa que entra na nossa vida. Contigo aprendi que amor pode ligar as pessoas, independente de cor da pele.

Negra e a Tati


Contigo ganhei mais dois irmãos, o Xande e a Tati. Ganhei uma família toda: Angelika, Karine, Claudete, Claunira, Mila, Zoca, Francine, Gui, Karol, Lucas, Lu, Maia, Vivi, Val, Rodrigo e muitos, muitos outros que povoam meu coração!

Xande, Negra e Tati


Contigo descobri que sou filha de Iansã e Xangô, meus pais espirituais, que me dão força para viver nesta vida tão insana. Contigo vivenciei religião que cuida de gente. Aprendi que uma terreira é o melhor lugar para se estar, quando o coração é puro. Este aprendizado foi tão forte, que não consigo entender tanto ódio por aí. E por isto te escrevo. Te escrevo para agradecer a tua fortaleza, a tua justiça.

Escrevo para dizer ao mundo que existem pessoas que sofrem uma vida toda, mas que mesmo assim não se rendem à amargura.  Esta pessoa é tu. Hoje, com tanta coisa triste, eu gostaria de te abraçar muito forte e chorar no teu ombro, mas o Covid ainda não deixa. Sei que primeiro me daria uma bronca: “Pati, filha minha não se acovarda! Respira e enfrenta! Xangô e Iansã estão contigo!” Depois me abraçaria e com a voz mais meiga deste universo me faria carinho com poucas palavras e muita presença. Porque contigo aprendi que o amor vence todos os pesadelos do passado, que a paciência rende frutos doces e que cantamos para nos libertar. Que a força dos orixás estejam contigo e abracem este mundo tão necessitado de pessoas justas e amorosas como tu. Muito obrigada!

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Quando se reinventar já faz parte da vida

Para Nelson Telles o dia começa de madrugada, pelas quatro horas da manhã. Natural de Santa Maria, já está em São Francisco de Paula há sete anos. Inaugurou sua Casa de Carnes Nelson Telles no dia 17 de abril deste ano, em plena pandemia do Covid 19. Seria louco ele? Não. A atitude do Nelson nos mostra um homem que acredita no seu talento. Com seu balcão de carnes sempre montado às nove horas da manhã para venda, Nelson é cuidadoso com seu trabalho. Ele viu a necessidade de São Chico ter uma casa de carnes com qualidade e cortes selecionados. "Nosso consumidor assiste programas de gastronomia, lê livros específicos nesta área, nossa clientela está mais refinada e estamos preparados para atendê-los", fala Nelson. Seu pai sempre trabalhou com carne, no sistema tradicional. Nelson então "pegou gosto pelo negócio" e quis seguir a tradição da família, mas com inovação, acompanhando as tendências gastronômicas. Com quase 30 anos de experiência, ele continua querendo se aprimorar. "Porque é preciso estudar e se especializar sempre, mesmo na área de cortes de carnes", complementa Nelson.

Nelson com a família e a arquiteta Daiani Medeiros, responsável pelo projeto arquitetônico

Inaugurar em plena pandemia podia não parecer o melhor momento, mas não se podia voltar atrás. Nelson e a família, que trabalha junto (mais o auxiliar Lucas), decidiram apostar no que acreditavam: atender as preferências do cliente. Adriana, a esposa, cuida do planejamento e do financeiro. Kimberly, a filha, faz faculdade e já está no mercado de trabalho. Nas horas livres ainda ajuda a família na Casa de Carnes. Este trabalho conjunto é a fórmula para o sucesso. "Aumentamos os deliverys, o cliente quer o produto bem acabado, com corte especial, separado em porções para congelar. Escutamos suas preferências e realizamos cada uma delas. Trabalhamos com a encomenda que o cliente deseja", conta o empresário. E a cada chegada de cliente, o pequeno e eficiente Gabriel, filho de 4 anos, sinaliza aos pais que é hora de vender bem!


Investir em redes sociais também foi  mais uma opção. Além da venda no balcão, a tecnologia ampliou a oferta dos seus produtos, que podem ser encomendados via Whatsapp, Facebook e Instagram. As carnes são o carro chefe do negócio, porém queijos, embutidos, geléias gourmet, vinhos e temperos também acompanham as vendas.


A rotina de trabalho diária inicia de madrugada. Receber mercadoria, preparar a carne para quando a Casa abrir às nove horas, montar o balcão de carnes sem desperdícios. Uma rotina com muitos detalhes para que os clientes possam receber tudo com qualidade, inclusive consultoria do Nelson sobre o uso de cada tipo de carne nas refeições.


Nelson almeja trabalhar com carne originária dos Campos de Cima de Serra. Já está integrando um projeto de melhoramento de rebanhos, que logo dará resultados. Atualmente trabalha com um frigorífico de Santa Cruz do Sul, com carne originária da fronteira do Estado, raças britânicas (animais criados em pasto e confinamento).



Nelson sabe que os negócios estão se reinventando e que os planejamentos empresariais precisam ser revistos semanalmente. Neste momento sua fórmula está dando certo: ouvir o cliente e oferecer produto de qualidade. Com o apoio da família, Nelson está sendo aquele empresário que enfrenta as dificuldades com esperança em tempos melhores.


Endereço: Rua Assis Brasil, nº 120, sala 1 - prédio Bertussi  Whatsapp (54) 99704-9203 - São Francisco de Paula

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Quando a máscara revela quem somos

Quando a pessoa é fingida, o comentário é "que ela usa máscara". A máscara escondeu rostos em bailes de carnavais. Virou sinônimo de "escondido, simulado". Até o ano de 2020, quando usar máscara se tornou sinal de consideração ao outro e prática de prevenção, em tempos de Covid 19. Está em vigor um decreto estadual tornando obrigatório o uso de máscara no Rio Grande do Sul. Ou seja, não tem mais para onde fugir: o negócio é se mascarar!

São Francisco de Paula usa máscara (foto retirada da página da Paróquia de São Francisco de Paula)

Costureiras, artesãs, pessoas preocupadas com a saúde pública colocaram a mão nas máquinas de costura e produziram dezenas, centenas, milhares de máscaras para a comunidade. Neste caso, a comunidade serrana do município de São Francisco de Paula (onde moro). A Associação do bairro São Miguel, além de fazer máscaras para os seus moradores, confeccionou proteção para os monumentos da cidade: o santo padroeiro, o negrinho do pastoreio e o tropeiro. A iniciativa partiu do artista Edmilson Duarte, que se juntou com a associação de bairro, a Paróquia da cidade, a Prefeitura Municipal e a empresa InstalSerra. "Colocar máscara nos monumentos é um ato simbólico da importância de nos protegermos. Juntamos nossas forças: a arte, a comunidade, iniciativa privada, a igreja e o poder público, para sensibilizarmos a população de que podemos e devemos nos proteger", afirma Edmilson Duarte.


Edmilson e o Negrinho do Pastoreio

Quando as forças se unem pelo bem comum da sociedade

Em tempos incertos para planejarmos futuro, o que nos cabe é buscar valorizar ações que protejam as pessoas. Estamos falando do uso correto de máscaras, do isolamento social e da disseminação de informações corretas. Será este triângulo de ações que salvará muitas vidas. Por mais máscaras de proteção nestes dias.

#jornalistanaquarentena

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Um lugar para pertencer


"Preparado para um mergulho? Feche os olhos e vá. Não se perturbe pela cor das águas, nem pelas recordações. Apenas vá". Não foram bem estas palavras, mas foram quase estas que o escritor Eduardo Krause me disse, quando viu um exemplar de Sanga Menor, da autora Cíntia Lacroix (publicado pela editora Dublinense), aqui na Boutique Viale. Confesso que demorei a mergulhar. E agora, que encerrei esta leitura, me arrependi de não ter feito antes (primeiro recado dado: não me imite!).


Sanga Menor é uma história sobre pertencimentos, vidas vividas em sonhos e vidas morridas em realidade. Não é história para consumir como petisco. É leitura para devorar em bocadas irregulares, mas bem mastigadas. Porque a vida e bons textos são para mastigação lenta, trituração, apreciação, degustação. Não é comidinha pastosa para passar batida pela garganta.

Cíntia Lacroix é a autora de Sanga Menor, que foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura na categorias autor estreante em 2010
De pastoso o livro não tem nada. Nem Lírio, o personagem molenga, que tanto irrita no início da história. O moço menino de intestinos ressecados, de tão fechado que era para a vida. Cada personagem (Rosaura, tia Margô, Caetana, Gilberto, Valderez, Eliezer, Percival e outros) abraça uma ponta desta narrativa e todos se encontram no ponto chamado AMOR/ÓDIO à Sanga Menor. A Sanga, (no dicionário: córrego que seca com facilidade) nada mais é do que a travessia chamada vida. Ali todos se encontram, todos se reverenciam ou se enojam. Seja nas águas, seja nas cinzas. Seja num mero mergulho imaginativo.



Por que você, leitor/leitora, precisa ler Sanga Menor, a cidade em forma de ladeira, AGORA? Porque este isolamento social proporcionado pelo Covid 19 tem nos mostrado nossas humanidades e desumanidades. Estamos numa montanha russa de emoções, sombras e luzes. Para qual lado segue nossa miopia social? Para qual lado segue nosso coração surdo aos apelos alheios? O livro nos convida a reencontrarmos nossas histórias de parentes, nossos confortos e desconfortos de sobrenome familiar. Quantas vezes você mergulhou nas águas escuras da sanga da sua vida? Sequer sabe que ela existe? Nossos córregos correm silenciosos por entre as veias e memórias nossas. E o silêncio nem sempre é vivenciado. O silêncio é ocultado.


A Boutique de Pizzas e Livros Viale, aqui em São Francisco de Paula/RS, tem um exemplar de Sanga Menor para venda (R$ 29,00). O livro também pode ser comprado pelo site da editora Dublinense. O que não pode acontecer é deixar de ler estas 254 páginas de pura revelação, do que cabe no universo humano. Não existem efeitos especiais, nem aberrações literárias. Só existe vida, vida, vida!

Por que me tornei uma colagista

Em 2001 fiz um auto exílio na Suíça, em função de um casamento. Jornalista no Brasil, lá me descobri uma analfabeta. Além de precisar apre...